domingo, 8 de novembro de 2009

Dogma e religião

Aparentemente indissociáveis, são completamente incompatíveis. Não que não existam dogmas verdadeiros, eles existem, mas um dogma é uma verdade inquestionável, contra à qual nenhum argumento vigora. Todos os dogmas verdadeiros são preexistentes à humanidade, como a gravitação e o magnetismo.
Para ser inquestionável se necessita da perfeição, que está fora do alcance de qualquer criatura. Mesmo um Papa. Ainda que ele receba inspiração do alto, terá que interpretá-la, nisto vai usar os conceitos de que dispõe, que são humanos; falíveis.

É neste ponto que a maioria dos teístas e ateus erram crassamente, um tentando defender e o outro atacar as religiões, se baseando em seus dogmas. Tendo um dogma religioso sido erigido por homens, muitas vezes de coração duro, ele terá destes os conceitos pessoais de conduta sobre o qual se apoiará. Tal dogma terá sido, quase sempre, formulado para controlar um povo de tendências primitivas e altamente rebelde, não se aplicaria mais à maioria dos povos.

Analisar uma religião por dogmas é reduzí-la a um partido político. Quem o faz se esquece da verdadeira função da religiosidade, que é nos colocar de volta ao caminho do qual nossa rebeldia e orgulho exacerbados nos tiraram.

Para retomar o ponto de onde paramos, é necessário fazer o que se chama errôneamente de "pobreza de espírito". Não é pobreza, é desapego. Pobreza é escassez de recursos, ter menos do que se necessita para uma vida plena. Completamente fora de propósito. Para se retomar o caminho perdido é necessário não dar à matéria (nem a si mesmo) mais inportância do que realmente cabe. Nem menos. Para pessoas muito úteis, ser rico é uma necessidade, pois a abundância de recursos se justifica pelas obras que pratica. Ninguém que faça uso nobre de sua fortuna está privado das benesses celestes, muito pelo contrário.

Se apoiando em dogmas, teístas e ateus se apóiam em impressões humanas, muito susceptíveis à deturpação da conveniência de quem estiver no poder. Foi assim em Roma.

A bem da verdade, a maior parte da responsabilidade pela ploriferação dos ateus é dos próprios religiosos. Em vez de interagir com a essência doce e morna de sua religião, se entrega à dureza áspera e amarga de suas leis. Leis feitas (ou interpretadas) por homens, quase sempre carregadas de misoginia e etnocentrismos, muitas vezes feitas para manter intacta a situação que lhes parece mais confortável, confiando que "um dia" alguém encontrará um modo suave de reorganizar tudo. Até hoje a maioria dos povos espera que alguém no futuro o faça. Não hoje, sob hipótese alguma, seria escandaloso e imoral. Que moral. Para que serviria hoje? Quem freqüenta templos e pratica as regras de uma religião é, em sua imensa maioria, um prato feito e suculento para qualquer um com um pingo de cultura.

Regras são necessárias para nosso actual nível de evolução moral, mas só se aplicam ao nosso tempo, de modo algum podem resistir por mais de um século sem alterações. São regras humanas, aplicáveis à maioria dos humanos, na maioria dos lugares. Há humanos e lugares aos quais só causam problemas, mas sacerdotes e seguidores insistem em aplicar essas regras a todos, como se tivessem sido impostas pelo Altíssimo.

A fé não pode ser cega, pois é por ela que o religioso se guia. Lembram de alguém ter falado sobre cegos guiando cegos? Pois é assim que são aqueles que seguem os dogmas de uma religião sem olhar para os lados e sem se importar com as conseqüências de seu radicalismo.

Eu tenho fé. Sei no que acredito e porque acredito. Não é da conta de quase ninguém, pois é uma programação feita para mim, como minhas impressões digitais.

Quem disse que a fé deveria ser cega o fez por questões políticas, criando um dos dogmas mais nocivos da história da humanidade, pois acaba por louvar a ignorância. Então, mais uma vez, tenho que dar a mão á palmatória do ateu. A religião deveria alavancar nossa evolução, não atrasá-la.

Nós estamos atrasados, muito atrasados. Mundos que eram primitivos durante a nossa idade antiga, nos ultrapassaram em muito. Enquanto discutimos se isto é certo ou errado à luz da lei, eles simplesmente testam e estudam para colocar ou não em prática.

Na dúvida de minha mediocridade humana, sigo um único dogma. Não no sentido mundano e egoísta, que desvirtuou seu nome, confundindo-o com paixão: Só o amor vale à pena.

sábado, 5 de setembro de 2009

Judia na roda

Esther é a última convidada a falar. Foi uma semana inteira para os convidados explanarem sobre suas religiões, tirando dúvidas e quebrando mitos. Caprichosa ao extremo, se deu ao trabalho de redigir pequenos livretos sobre a Torat, feitos em papel-jornal, sucintos e objectivos.
É anunciada pela nova directora, pois a última pediu transferência após ter sido nocauteada em público pela judia, se levanta em seu longuete azul claro e vai à frente...
- Amigas, bom dia. É um prazer estar com vocês de novo, desta vez para um assunto tão aprazível e esclarecedor. Quero agradecer ao Padre Bernardino, ao Pastor Isidório, ao amigo Abdulah, à Monja Fuji e à directora, por terem contribuído para a boa formação moral dos meus filhos. Eu sou judia, minha família veio ao Brasil fugindo do nazismo. A precocidade da fuga permitiu que todos os documentos que juntamos nos últimos três séculos fossem salvos, e eu gostaria de dividir com vocês um pouco da sabedoria e das lições que meus antepassados transmitiram. Aliás, nossos antepassados, pois nossas religiões têm todas uma raiz comum e a minha trouxe à luz algumas das de vocês. Somos irmãos, então.
Despeja um pouco da imensa sabedoria que o estudo com afinco de suas tradições lhe deu. Inclui factos históricos já comprovados, mostrando que não é uma fanática que acredita que anjos caibam na Terra e percam seu tempo exterminando infiéis. Como Abdulah, mostra que a mulher é muito mais forte em seu meio do que o folclore cristão faz parecer...
- Nossa submissão não é ao marido, mas à nossa tradição, é ela quem nos guia os passos. Não uma castração, mas um porto seguro aonde vamos quando as tormentas deste mundo de provações ameaçam-nos com um naufrágio. Um judeu que se preze sabe quem realmente manda na casa.
- Você escolheu o seu marido?
- Escolhi. E o deixei de molho por uns meses até que demonstrasse respeito por mim... Casei cedo, às vésperas de fazer dezoito anos.
Esther, mãe de Sarah e Jacob, conhecida na comunidade como "A Dona de Casa", conduz placidamente a entrevista, conseguindo simpatia dos presentes para com o judaísmo e até confirmando convites para uma visita à sinagoga. Ninguém reconhece a pugilista de batom que desacordou a antecessora de Carolina. Mas quando o assunto é religião, sempre aparece uma serpente para contaminar o paraíso. Uma fiél da igreja "Deus é Só Meu e Ninguém Tasca" se manifesta, afirmando que vai tirar os filhos daquela escola de ímpios...
- Que absurdo é esse em falar que o Meu Senhor Jesus era judeu? Ele é o Deus vivo, o rei dos reis...
- Descendente directo de Davi. Ele escolheu nascer judeu, não existia cristianismo naquela época.
- Não, existiam as trevas, o reinado de Satanás. Vocês rejeitaram e mataram o Messias!
- Está parecendo daqueles jornalistas que falam de Israel e só soltam besteiras. Ele foi crucificado por uma elite que se rendeu à sedução de poder dos romanos. Pela coragem que teve em cutucar feridas publicamente, é sim digno de admiração e respeito. Ele estudou a Torat, (com toda aquela sabedoria) a Kabbalah e conhecia nossas tradições como o judeu que escolheu ser.
A fanática solta uma gargalhada que ressona por todo o ginásio, não só isto, fica claro que não são risos de ironia ou humor, mas risos nervosos de ódio incontido. Fica claro que só não investe contra Esther porque sabe que apanharia. Ela começa a declamar o velho testamento de frente para trás, de trás para frente, da direita para a esquerda e vice-versa. Não que saiba o que significa a maioria das palavras, apenas memorizou sistematicamente...
- Você gosta do Velho Testamento?
- Eu amo a Palavra do Senhor, é minha muleta, meu amparo, meu abrigo...
- Então você gosta um pouco do judaísmo. O Velho Testamento foi todo tirado da Torat. Tudo o que você disse eu aprendi no idioma original, sem distorções e perdas por traduções sucessivas, em hebraico. Por exemplo, Eva não foi nasceu da costela, os dois eram unidos pela costela e foram separados. Vocês não devem levar ao pé da letra um documento redigido ao longo de milênios, rico em entrelinhas e com passagens que só os sacerdotes mais preparados estão aptos a compreender. Toda a alegoria da Gênesis é uma lição de maturidade para a vida, não um relato histórico e histérico de um deus rancoroso que dá as costas pela primeira falha de seus filhos. Ele sabe que somos falhos, não exigiria santidade de quem mal sabe raciocinar e amar menos ainda.
A fanática faz uma cara de desprezo, sem esconder que ferve por dentro, apontando-lhe o dedo...


- Eu serei recebida com honras de rainha, pelos anjos. Do meu trono, no céu, eu rirei vendo você ser queimada e atormentada no inferno.
- Você já está no inferno.
- Ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra! Eu sou eleita, eu tenho direito de decidir quem vem comigo ou não para o céu, e você não vai.
- Lamento informar, eu já estou no céu, você já está no seu próprio inferno.
- Eu sou abençoada, tenho carro novo, casa grande, fiscal nenhum me enche o saco, sou amiga de políticos...
- E depois vocês se perguntam porque existem tantos ateus no mundo. Jesus não admitiu que os apóstolos sonegassem, tanto que ajudou Pedro a pagar o imposto. Agora compreendo quais são suas motivações e porque seu marido pediu o divórcio.
Ela emudece, faz uma repentina gritaria como se estivesse na igreja e sai jurando vingança santa. Esther se vira para os presentes, lamenta o ocorrido e continua, sendo interpelada pela directora...
- Então isso é ser judia? Você estava muito segura do que disse, deu uma demonstração de cultura e domínio de causa fantástico.
- É obrigação de um judeu ter consciência do que é. Eu tenho uma visão clara do mundo e do meu mundo. Eu acredito na minha religião, vivo o judaismo, mesmo quando passamos por uma crise que quase custou o meu casamento. Vejo que não dá mais tempo para dizer tudo o que pretendia, mas trouxe uma Torat em português, bem resumida e comentada para quem se interessar.
É necessário fazer um sorteio que agracia uma aluna atéia. Mas antes de encerrar, pedem que explique o que quis dizer, embora alguns façam uma boa idéia, com ela já estar no céu e a outra no inferno...
- Nós temos livre arbítrio. Ninguém te manda para lugar nenhum, nós é que nos encaminhamos para lá. Ninguém com o coração corrompido atravessa sequer a calçada para o portão celeste, não importa quanto conhecimento teórico tenha e o quanto se destaque em um templo, porque o templo que interessa é justo aquele que aquela senhora desdenhou. Se eu for chamada hoje, vou sem arrependimentos, estou ciente de que tudo o que está ao meu alcance eu faço; edifico o meu lar todos os dias; disponibilizo algumas horas do meu dia por gente que talvez eu nem conheça, e levo meus filhos para que também ajudem; busco ser melhor a cada dia, rogo que Jeovah releve minhas muitas faltas e me ajude a repará-las. Minha família é tremendamente estável, passamos por crises sem desagregação, sem perda de respeito. Eu sou feliz não pela glória de ter sobrevivido ao que nos acometeu, mas apesar do que nos acometeu. Isto, uma vez aprendido, se torna parte de você e ninguém lhe toma. Isto é o céu. Agora vamos, que a Mirtes já nos chama.
Como dona de casa exemplar, Esther trouxe os quitutes de seu próprio forno para a reunião.

sábado, 15 de agosto de 2009

Hebreus assando


Vocês já devem ter se perguntando porque Deus mandou os hebreus caminharem por quarenta anos no deserto, em vez de manda-los miraculosamente para um lugar decente. Se nunca se perguntaram, então são bruxos muito mixurucas. Mas levantei a questão e agora a dúvida foi suscitada.

Para quem chegou agora ao clube, existe algo chamado forma-pensamento. Trata-se, por assim dizer, de uma emanação que uma pessoa gera quando pensa. Pensamentos não são abstratos, eles produzem efeitos profundos no cérebro e outros ainda maiores no plano astral. Quando alguém pensa na Ana Paula Arósio, uma entidade pelo menos assemelhada se forma em algum lugar, ligando o pensador à moça. Quase sempre a forma-pensamento é efêmera, pois quase todos os pensamentos são logo esquecidos. sem pensamentos para alimentá-la, a forma-pensamento se dissolve, se não for engolida por um ibis.

Mas quando alguém pensa insistentemente na Ana Paula Arósio, se sonha com ela, projeta mil fantasias com ela durante muito tempo, então temos uma forma-pensamento que pode evoluir para uma larva astral. A larva astral tem a capacidade de buscar alimento, com isso pode obsediar o fã incauto e fazê-lo a pensar mais e mais na actriz, o que, convenhamos, não requer esforço algum. Sim, é por isto que certas pessoas não conseguem parar de pensar em algo ou alguém, também é por isto que vocês devem ter muito cuidado com seus pensamentos. Vocês devem controlá-los, vocês os criaram, vocês são os mestres, não troquem os papéis. O problema é que a maioria das pessoas não tem noção disso, e foi por isto que Moisés mandou todo mundo catar seus badulaques e ir passear no microondas de areia. Ele não estava sacaneando com os hebreus, ele os estava curando.

Esse povo magnífico, mas com um passado pra lá de beligerante, nutria sentimentos de rancor e vingança contra os egípcios. Lembremos do que eles mesmos escreveram no Velho Testamento, somos todos filhos do mesmo Pai/Mãe. Todos, inclusive o teu vizinho que torce para o Boca Júniors. Imagine a quantidade e força de formas-pensamentos e larvas astrais nutridas durante gerações inteiras por um povo inteiro. Decididamente, eles não poderiam ficar simplesmente livres no Egito, logo causariam problemas e poriam tudo a perder. Todo mundo para o deserto, onde o sol escaldante do dia, o frio kelviniano da noite, a fome, os esforços para vencer as areias e as perdas os fizeram pensar mais na própria sobrevivência e menos em esganar o faraó. Deu certo. Tanto que eles começaram a se revoltar contra Moisés, lembrando do tempo em que tinham pão e carne em abundância, o que era mentira, pois a comida racionada era um dos motivos do descontentamento no cativeiro. A radiação ultravioleta e a luz intensa deram cabo das formas-pensamento e das larvas astrais, que até tentaram, mas não conseguiram levar os hebreus de volta para o conforto do cárcere.

Vocês sabem (sabem, não sabem?) que um sonho dos hebreus sempre foi o Estado de Israel. Precisaram de milênios para conseguí-lo, mas conseguiram. Afinal era o desejo de uma nação, não de um indivíduo. Agora, se estão fazendo besteira, é outra história e eles terão que pagar por ela.

Pois, meus caros leitores, vocês podem fazer exactamente o mesmo, quando um pensamento maroto estiver lhes azucrinando as idéias, não lhes deixando tratar direito de seus assuntos. Com o sol a pino, passem um bloqueador na pele, uma roupa confortável (não curta, senão é queimadura na certa) um chapéu e vão caminhar sob o sol. Caminhem e deixem que esses pensamentos desobedientes torrem até serem reciclados. Na volta, esperem à sombra o corpo esfriar e tomem uma ducha fria. Vocês verão como faz efeito.

Não, não precisa caminhar por quarenta anos. Uma hora ou duas e o cabeção estará novo de novo. De preferência, caminhem por lugares aonde pouco vão, ajuda a ter pensamentos novos, apressando o enfraquecimento dos obsessores.

No caso de bruxos já com alguma experiência, e comprometidos a não fazer cocô com a magia, a fixação em um tema é até benéfico. Uma vez que o pensamento esteja son controle e as intenções sejam dignas da ajuda do alto, a forma pensamento gerada por alguns minutos de meditação por dia será útil, ajudará a te encaminhar para aquilo que precisas. Não necessáriamente o que desejas, que quase sempre é bobagem ligada ao ego. Ponham suas fichas no caminho do meio e apostem sem medo, as formas-pensamento te levarão para onde lhe for melhor, o que popde até coincidir com teus desejos, talvez até a Ana paula Arósio.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Semente de Mostarda

O que torna a semente de mostarda um exemplo tão notável para uma parábola?
Minúscula, a sementinha tem praticamente nenhum material à sua disposição, é frágil, fácil de ser danificada e esterilizada por incidentes e intempéries. Mas mesmo com esta aparente e imensa desvantagem, ela usa os recursos de que dispõe (ou seja, a terra e a água) para fazer o que precisa: Se transformar em árvore. Ela não questiona o que tem a fazer e não mede o tamanho da tarefa, ela literalmente transforma uma montanha em fonte de alimentação e sombra. O trabalho é lento, penoso, mas ela faz assim mesmo.

É assim que um milagre é operado. Não por pó de pirlim-pim-pim, mas pela conta dos recursos de que o próprio indivíduo dispõe.

É assim que a fé do tamanho de uma semente de mostarda, com seus miligramas, move uma montanha com suas mega toneladas. Não por agressão, não por imposição, mas a transformando por meios que qualquer um pode testemunhar. Basta ter paciência e atenção suficientes, nem precisa ver a transformação inteira para saber que ela será possível, logo nas primeiras safras de mostarda as alterações do relevo ao redor dirão o que acontecerá cedo ou tarde, mas de modo irrevogável. O trabalho é sutil e delicado, como se fosse uma bailarina.

Dizer que aqueles miligramas podem mover milhões de toneladas, mostra também a hierarquia do espírito diante da matéria. É como um general competente e bem assessorado comandando milhões de soldados capazes, mas obtusos. E é esta a posição do bem diante do mal. Se o bem se mover, o mal se afastará e até mesmo se converterá, porque não terá escolha. Um bom exemplo é a energia nuclear. Qualquer um que não tenha dormido nas aulas de física do antigo segundo grau sabe o que um quilo de matéria pode fazer, quando se transforma em energia. E afirmo que a energia obtida ainda assim é insignificante diante do espírito. Imaginem o que um quilo de espírito pode fazer.

Mas para que teu espírito trabalhe e se transforme de tal maneira, é necessário que lhe dê terra fértil, não precisa ser muito fértil, e que cuide de seu crescimento como um bom lavrador cuida de seu pomar.

A sutileza é que as sementes a que me refiro têm livre arbítrio, nem sempre germinam e crescem a contento, também nem sempre produzem como poderiam. felizmente o Bom Lavrador e o Bom Pastor são a mesma pessoa. Ele jamais desiste. Ele nos dará todas as condições para que cresçamos e frutifiquemos, e um dia teremos de volta a grória perdida de Capela. É um caminho sem volta.

sábado, 6 de junho de 2009

O Poder do Mito*

* alusão ao livro homônimo de Joseph Campbell

Terapia algumas vezes pode ser algo desagradável. Você se depara com partes da sua personalidade que nem sabia existirem. Se depara com seu próprio Ego. Com quem você realmente é.

Meu terapeuta, graças à Deus, além de estudante de temas espiritualistas, é um seguidor apaixonado de Carl Gustav Jung, que é, para mim, o maior expoente de todos na História da Psicologia.

Um dos pontos mais importantes na teoria de Jung é a comparação com os mitos, com as estórias (hoje consideradas mera ficção) antigas, que em seu lado mais profundo, nos revelam à nós mesmos.

Como dizia a inscrição na entrada do Oráculo de Delfos, "conhece-te a ti mesmo".

Esse é o poder do mito. Mostrar a você quem você realmente é, e o que realmente faz.

Semanas atrás, meu terapeuta indicou que eu estudasse o mito da Caixa de Pandora.

E como foi assustador entender que minha ex-esposa era a minha Pandora, eu era Epimeteu, que sem pensar, a desposei. E ela abriu a caixa da minha vida, e permitiu que de lá saissem tantas coisas, tantas mágoas, tanta dor, tanta tribulação. E ela prendeu na caixa, que carregou consigo, toda a minha esperança. Mas a esperança seria sofrimento? Segundo Nietzsche, sim.

Ou quando ele me pediu pra estudar o mito de Narciso. Seria eu um narcisista? E qual foi a dor de entender que sim... Que eu procuro um herói fora de mim, uma auto-imagem externa. Me prendo à algo que deveria estar dentro de mim, e SABIDAMENTE dentro de mim, mas procuro isso fora. E contemplo essa imagem de fora, e me perco esquecendo de viver o presente, o que me cerca.

E agora, ele me pede pra estudar o mito de Sansão e Dalila. Entendendo que eu sou Sansão, me entregando ao orgulho dos meus "cabelos", e pondo neles a crença da minha força. E Dalila, o medo que sinto. Me tira o orgulho, me tira os "cabelos", e me mostra o quanto sou fraco. Mas tenho que me humilhar perante Deus, e tirar d'Ele a força pra continuar, e romper os pilares do templo dos meus inimigos.

Mas o meu inimigo maior sou eu mesmo.

E nesse confronto, quem tem força suficiente pra suportar, ou vencer?

Enquanto não sei a resposta, aguardo o próximo mito para estudar. E me entender. E quem sabe, um dia, com as bençãos do Pai, me vencer...



Ou tentar um empate...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

É difícil conversar com pessoas com as quais jamais encontrei, cujos rostos jamais vi se mexendo e cujas vozes jamais ouvi.
Há uns anos eu não me importava com isto, mas no último lustro minha vida virou pelo avesso, ou talvez tenha virado para o lado certo, pois escapei de me tornar ateu; isto sem ter que encher bolsos de um espertalhão, foi por conta própria.
Hora me xingando, hora me agradecendo, as pessoas começaram a desabafar comigo (logo comigo!) e contar detalhes de suas vidas.
Pode parecer banal, na maioria das vezes é, mas nestes melindres que é a vida eu já peguei gente desesperada. Uma tentou suicídio, outro conseguiu. A que tentou só agora, ano e meio depois, começa a se recuperar e reavivar sua chama. Ela e tantas outras pessoas passaram pela minha caixa de mensagens, ás vezes mudando de e-mail e usando pseudônimos, algumas sem a mínima noção desapareceram rapidamente.
Houve gente precisando do meu ombro, justo quando eu mesmo mais precisava de um. Eu, que cheguei a me preparar espiritualmente para a clausura, precisei atender a até sete cartas electrônicas por dia. Não simples cartinhas de "Oi, blz", mas mensagens densas, do tipo que se deve ler duas, três, quantas vezes forem necessárias para saber o que dizer à pessoa.
Ainda hoje sou um homem recluso e prezo a discrição, tenho quase que phobia pela notoriedade. Mas hoje sou blogueiro e há pessoas que pedem para eu falar de alguns assuntos.
É um dharma que conquisto, é certo, mas também é certo de que se trata de um trabalho tremendamente perigoso. Como transportar um coração de cristal fino para transplante; preciso ser ágil para chegar a tempo, mas cuidadoso o bastante para evitar a mínima trinca, ou o paciente padece.
Para vocês que já riram de alguns dos meus textos, digo algo que Hollywood descobriu há décadas: O palhaço é um homem triste, é o sujeito mais taciturno e retraído do mundo. É fácil para ele fazer rir, arrancar um riso dele são outros quinhentos. O pior é que nem sempre ele está disposto a fazer graça, como o cirurgião nem sempre está no melhor de sua coordenação. Mas quando a emergência se apresenta não há jeito, ele tem que pintar o rosto, subir ao palco e cordializar suas entranhas para fazer rir. Ainda que lhe custe uma lágrima. Muitas vezes custa.
Não reclamo, longe disso. Este nem deveria ser um texto tão denso, deveria ser apenas um tapa buraco para evitar um hiato muito grande até o próximo colega publicar. Mas foi o que saiu.
Hoje me escrevem bem menos, acredito que já cumpri com minha missão para com a maioria, da mesma forma alguns permanecem e outros chegam. É duro ter a vida alheia aos seus olhos, quando a tua mesma está complicada, mas não sei se eu compreenderia bem a dor do outro se estivesse escrevendo de um Apple com inernet sem fio de banda larga, em um chalé em Campos do Jordão. Talvez agora eu pudesse me dar este suporte, se a grana sobrasse para tanto, mas não sei se há cinco anos seria assim.
Não reclamo. Podem vir quantos precisarem, não estou no mundo a passeio e não será agora que vou enforcar o serviço.


P.S: Texto originalmente publicado no Talicoisa, trazido para cá a pedido do Filho de Oxóssi.

domingo, 24 de maio de 2009

De volta aos vivos...

Uma idéia não morre, e é à prova de balas, como teria dito V, de V de Vingança, obra de Alan Moore, que além de grande roteirista, é também bruxo.




Quando a idéia deste blog nasceu, veio com força, com amor, e com muita luz. Mas assim como os pais de uma criança, às vezes é necessário um tempo para reflexão, e compreensão do que tudo isso transmite, ou que traz de novo à vida corrente.

Exatamente como acontece conosco, ao voltarmos às encarnações. Enquanto estivermos presos à Samsara.


Samsara

Encarnação não é castigo. É possibilidade nova de aprender, de fazer, de crescer. É chance abençoada de nos ligarmos novamente à Deus (à religião, não uma específica, pois todas são de Deus, mas ao religare em si, à possibilidade de encontrar conexão com o Divino).

Deus e seus prepostos, que chamamos de anjos, ou os Nyrmanikayas, que são aqueles que já abandonaram a roda das encarnações, mas se mantem encarnando para ajudar a coletividade humana a crescer, todos eles se esforçam para que alcancemos o mesmo que eles.

Deus não é exatamente inatingível. É possível encontrá-lo, sim, desde que haja força de vontade para tanto.

Não, não é necessário encarnações e mais encarnações em diversas paragens do plano físico, através do Universo. Isso se trata do crescimento que TODOS teremos para um dia trabalharmos como prepostos do Altíssimo mesmo.

Encontrar Deus é uma tarefa tão simples como qualquer atividade rotineira.

Basta apenas contemplar a Criação. Você pode encontrar Deus no rosto de alguém querido, no céu azul e no Sol que te ilumina a face, ou até no luar que não te permite se perder à noite.

Você pode encontrar Deus no sorriso de uma criança, nas folhas de uma árvore, nas pétalas de uma flor, num pequeno cão que passe por você.

Deus se mostra pela sua própria Criação.

E o maior de todos os exemplos, é aquele que você enxerga diariamente na frente do espelho.

O Eterno te deu uma oportunidade de viver, de fazer, de crescer, de ser um bom filho, e de ser um bom servo nas sendas de trabalho d'Ele.

E a senda de trabalho do Altíssimo se revela sendo apenas amar ao próximo, e auxiliá-lo.

Bruxaria, Ocultismo, Magia, Ciências Ocultas, Fé, etc... Essa é a proposta do Demônios Internos.

Explicar aos que buscam as ferramentas que o Pai Eterno nos deu para seguirmos os nossos caminhos, sendo cada vez melhores servos de seu Amor.

E que Deus nos abençoe com sua Sabedoria, Amor e Misericórdia Infinitos.

Que Jesus Cristo nos ilumine os caminhos, sempre.

Que a Mãe Maria nos cubra sempre com seu manto, e nos alente o coração nos momentos difíceis.

Que os Prepostos de Deus nos deem força para prosseguir.

E que aqueles designados por Ele para serem os nossos Anjos da Guarda (aka Mentores Espirituais) nos protejam sempre. E nos inspirem as melhores idéias, e as melhores atitudes para nós e para todos.

Amém.

sábado, 16 de maio de 2009

Para discernir

O bom pastor leva suas ovelhas pelos campos, para que pastem e se fortaleçam com as dificuldades do terreno. Afasta lobos e cuida para que o rebanho esteja seguro à noite.

Algumas ovelhas se atrevem a enfrentar os lobos, algumas ovelhas se desgarram do rebanho. O bom pastor se esforça em trazer as ovelhas de volta, mas chega o momento em que uma se afasta demais e (aparentemente) se perde.

A ovelha perdida é encontrada por outro bom pastor, mas mais severo que o de origem. Nos primeiros tempos a ovelha desgarrada se rebela contra as novas condições. Em breve percebe que só machuca a si mesma com essa rebeldia.

Passa-se o tempo e a ovelha encontrada se enturma com as outras, passando-lhe o que o seu pastor original lhe ensinou, que ervas evitar, como caminhar com mais desenvoltura, acelerando a evolução daquelas mais jovens e amolecendo os modos do bom pastor, então menos rude.

Um dia o bom pastor original conversa com o actual e resgata sua ovelha. Ela já aprendeu sua lição, bem como ensinou as antes aprendidas, já valoriza a segurança e a companhia do rebanho, já sabe que não será livre na boca de um lobo, nem no fundo de um despenhadeiro, ainda que a queda dê uma efêmera sensação de liberdade.

A ovelha resgatada é recebida com festa por suas irmãs, ainda sem compreender o que estas aprenderam na sua ausência. Elas viram outros pastores, viram ovelhas indo e vindo, sabem que os bons pastores se conhecem e reconhecem, se comunicam, por isso mesmo uma ovelha jamais fica sem cuidados, não importa quanto tempo leve para aprender sua lição.

Como bom pastor, ele nunca abate suas ovelhas, apenas tira sua lã, de tempos em tempos, para o bem delas mesmas, pois sabe que lã em excesso também atrapalha.

Muitas ovelhas já voltaram ao paraíso que perdemos, mas isso foi há muitos milênios. Nós já não temos mais como nos adaptar àquele mundo que, se na época já era avançado demais para nós, hoje talvez nos seja inabitável.

Animais e elementais que haviam neste mundo, quando chegamos, precisam das lições e exemplos que a maioria de nós se recusa a oferecer. Já não podemos mais voltar à Capela, mas podemos fazer aqui mesmo um paraíso como o que perdemos, por nossa única e exclusiva responsabilidade.

Portais que tinham sido fechados na idade média estão se abrindo de novo, manifestações mediúnicas e aparições das quais falam (infantilizadamente) os contos de fadas voltam a acontecer aos poucos. Sinal de que algumas lições básicas um contingente suficiente de nós já aprendeu.

Não tenha medo nem vergonha de aceitar que acredita e pratica. Ninguém vai convencer um cego de que existem cores, se ele não crê, não podemos fingir que não cremos. Na próxima encarnação ele volta a enxergar e vai rir da história do ceguinho que refutava a idéia de cores.

Após as tragédias globais que ainda estão por vir, das quais só vimos o começo, teremos uma era glacial para uma humanidade já preparada. Nós, magos, bruxos e ocultistas brancos temos um papel basilar nesse processo, somos as ovelhas desgarradas que mais aprenderam no caminho. Nós temos conhecimento dos portais, muitos de nós têm acesso relativamente fácil a eles, é nosso dever desfazer a má impressão que deixamos nos habitantes das outras dimensões (ou reinos) e reestabelecer a cooperação desfeita com o fim de Atlântida.

Trabalhemos, pois o Bom Pastor não deixará nenhuma ovelha de fora. Não há pecado em desfrutar do mundo, se já fazemos nossa parte os campos verdejantes estão à nossa disposição. Voltemos para o ponto onde paramos e recomecemos a evoluir, como boas ovelhas.

sábado, 14 de março de 2009

Lucifer

Durante a fase de crescimento, nós podemos usar tanto roupas um pouco maiores, quanto roupas um pouco menores. Com o tempo, porém, as menores ficam desconfortáveis e chegam a rasgar se as vestirmos, então não tem mais volta. Precisamos usar as roupas que nos servem.
Com o espírito é a mesmíssima cousa. Com a evolução, ele cresce. Até certo ponto, enquanto está preso à reencarnação, ele pode estacionar e se rebelar inutilmente. Mas a partir do momento em que a fase reencarnatória se torna desnecessária, não há mais vestígio de sombra que dê margem para pensamentos perniciosos, então o espírito nunca mais volta a cair.

Muitos dizem que evocaram espíritos malignos em rituais negros, que receberam entre eles já se manifestaram os que se diziam Lúcifer.

Bem, eu posso aprender francês, estudar diplomacia e mandar e-mails como se fosse Albert de Mônaco. Mas me dizer Albert, não me torna Albert.

Um vidente competente não se deixaria enganar, pois o pensamento fora do corpo é indisfarçável, a mentira estaria escancarada à sua frente.

Lúcifer e Satanás não são a mesma pessoa. Este último, aliás, nem está mais na Terra, está aguardando na face escura da lua o transporte para sua próxima degredação. Coitado dele.

Lúcifer é um anjo, como tal deixou seu último corpo de carne há, no mínimo, muitos milhões de anos. Quem sabe o que isto significa (à quem não sabe é difícil explicar) conclui facilmente que ele não decaiu, pelo simples facto de que ele não tem absolutamente nenhuma necessidade de se afirmar, se enfrentar, nem de cousa alguma. Ele já é um ser realizado.

Leiam de novo: Lúcifer é um anjo. A parte da lenda que lhe atribui uma beleza extraordinária certamente é verdadeira, a outra é falsa. Quem começa a emitir luz não tem espaço para trevas, pois sua própria presença as debela. Emitindo ele sua própria luz, nem a mais densa sombra resistiria aos primeiros instantes de sua iluminação, sabe-se lá quando ela aconteceu.

Ele é um guardião do mundo inferior, daí terem lhe atribuído a identidade do outro. Para a sociedade da época, infinitamente pior do que a actual, quem estivesse em baixo pertenceria ao mundo de baixo, quem estivesse no alto pertenceria ao mundo do alto. Elevação por mérito era uma idéia perigosa, que de modo algum poderia vingar entre o povo humilde e sem amparo. Sabemos que muitos dos que se apropriaram do cristianismo eram ateus até a medula, sendo também políticos, não se importaram em deturpar o que já estava deturpado e deixar a batata quente para a posteridade. Para eles, se o mundo explodisse quando morressem, estaria óptimo, não acreditavam mesmo na vida fora do corpo. Tiraram da bíblia tudo o que lhes fosse incoveniente, permitiram ao longo dos séculos que surgissem dezenas de traduções que eram moldadas à cultura e política de cada região. Tenho notícias de que são cinqüenta e sete, pelo menos. Enfim, isto daria um livro inteiro para discutir.

Os antigos desaconselhavam evocar Lúcifer, não porque seria mau, mas porque é certamente a criatura mais ocupada do orbe terrestre. Ele tem a missão mais espinhosa de todos, que é manter os demônios em seu devido lugar, até que concordem em pagar karmicamente pelos seus delitos e aceitem evoluir. Se a maioria das pessoas encarnadas reluta em fazê-lo, imaginem eles.

Ele não nega ajuda no que for de sua competência, mas o trabalho que ele faz é demasiadamente denso, nem todas as criaturas trevosas resistem às profundezas em que ele realiza seus feitos. Experimente ficar trancado em uma câmara frigorífica cheia de carne podre, com uma roupa apertada, e terá uma vaga idéia do que ele enfrenta. Por que ele faz isso? Por nós. Por amor a Deus e a nós, ele está há centenas de milhões de anos no que é realmente o inferno, algo que somente um verdadeiro anjo pode suportar. Como um anjo de verdade, ele não dá a mínima para as difamações que lhe dirigem, simplesmente faz o seu trabalho com resignação e a determinação de não deixar ninguém para trás. Quando o último trevoso tiver se arrependido e subido à superfície, devidamente encarnado, então sim o trabalho dele estará terminado. Mas a julgar pelo que nós, caminhantes da magia, vemos e sentimos todos os dias, nosso pobre irmão vai amargar aquele lugarzinho por muito tempo.

Depende de nós abreviar essa missão. Todos sabemos o que devemos e o que não devemos fazer. Se querem agradecer pelo trabalho que ele faz, pratiquem o que devem fazer sem dar conversa às tentações de vingança, ressentimento e egoísmo. Esqueça o que não te serve e busque cousas novas. Só isso já basta.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Práticas exóticas?

Diz o ditado: Exótico é rico, pobre é maluco mesmo. Mas exótico é um termo referente ao que é estranho ao meio, estranho a ponto de dificilmente se poder integrá-lo sem prejuízo para as partes. Pois bem, é aqui que começa minha bronca.
Meu alfaiate dirige um centro espírita, ao qual infelizmente ainda não pude ir. Lá eles acolhem todos, Pretos Velhos, elementais, antigos espíritos que foram tidos como deuses, et cétera. O prestígio desse grupo é tamanho, que nenhuma entidade maligna consegue ficar de pé durante uma sessão. Viagens astrais devidamente acompanhadas, telecinese, resgates e tudo o que bons místicos prezam se encontra lá. O prédio é uma casa humilde, sem qualquer atrativo, mas basta ver sua configuração na outra dimensão para perceber o quanto é majestoso, por detrás daquela aparência despretensiosa. Eles lêem de tudo também. De O Código Da Vinci (êita picaretagem!) a livros de magia, passando por livros evangélicos e até manifestos ateus, eles lêem de tudo. Por isto mesmo têm autoridade para manifestar opiniões próprias, sem contaminações de arbítrio alheio. Eles sabem do que duvidam e no que acreditam.

Eles lidam com os elementais com tal intimidade, que a egrégora do mar ajuda freqüentemente nos socorros. Detalhe, estamos em Goiânia, a mais de mil quilômetros da praia mais próxima.

Pois pasmem, irmãos de caminho, a Federação Espírita condena, ainda que não propague, tudo o que eles fazem. Lá dentro, como em muitos centros que lhe são mais próximos, um funcionário não tem liberdade de pedir que os graduados dêem uma olhada em um livro que não seja esquadrinhadamente espírita kardecista, não sem receber uma reprimenda. Até parece o Vaticano.

Há centros que se tornaram tão materialistas em suas práticas, que nenhum espírito se manifesta há anos. Pior, os presidentes desses centros manipulam de tal forma as cousas, que não admitem candidaturas à sucessão. Gente que saiu da faculdade e acha que sabe muito mais do que alfaiates e professoras de primário. Aqui, um deles fez tanto, que acabou ficando dependente do Estado, que tem sido governado por protestantes um tanto radicais há mais de três mandatos, e eles acabam por dar pitacos sobre o que pode ou não ser feito durante as sessões; estas que já se resumem à leitura catedrática, fria e numérica do Livro dos Espíritos, quando muito de uma obra de Chico Xavier. Podem lhes perguntar o que quiserem, eles conhecem as obras "autorizadas" de cór e salteado, mas philosophar e meditar a respeito é outra história. É com o coração, não com o cérebro.

Vamos lembrar que os apóstolos (os de verdade, não os picaretas que assim se intitulam hoje) usavam e abusavam de materializações, incorporações, efeitos de cura e perfumes, transcomunicação e uma série de cousas que esses ex-píritas classificam de práticas exóticas. Comunicação útil com desencarnados é um dos pilares do espiritismo, e é proibida em muitos centros. Se tu fores a um e começares a falar da bondade de um Preto Velho, ou do modo como um anjo intercede, corres o risco de ser execrado. Porque eles rotulam como práticas exóticas. Será que proibiriam Divaldo Franco de entrar lá? Ou só lhe permitiriam o ingresso sem a companhia de Joana?

Agora vejamos o comportamento deles. Um dos ditos, um dos maiores manipuladores de estatutos de que já tive notícia, guarda rancores sem cerimônias, quando entra para uma sessão finge que não vê seus desafetos e adula seus partidários. Tamanha a falta de escrúpulos, que adulterou o estatuto original que os próprios espíritos superiores formularam, de modo a poder permanecer na presidência sem ser incomodado. Ditador é pouco, hein! Os espíritos em questão se mudaram, com o meu alfaiate, para a casinha humilde acima descrita, levando consigo os seguidores de maior valor.

Vamos ser francos, ninguém é dono da Doutrina, o que estão fazendo é tentar transformá-la em dogma, justo o que o espiritismo não deve ter. Proibir as pessoas de ler, ouvir e comentar algo, seja o que for, é manipular o livre arbítrio e podar o desenvolvimento intelectual. Não demora e começam a cobrar dízimos.

A boa notícia, porém, é que nada escapa à vigilância do alto. Ainda que eu seja adepto de métodos mais severos, aos poucos essa gentalha que detrata a Doutrina e atrapalha o retorno à sabedoria dos atlantes originais, será substituída por gente que pensa e deixa pensar, formula regras sem castrar a inteligência e não rotula o que não conhece. Pois o dogma, este sim é exótico e pernicioso. Foi com dogmas que o catolicismo foi corrompido por imperadores ateus.

Assim vale o que eu já disse noutro texto, pensem por si mesmos. Se um sacerdote ou um presidente de centro começar a querer dirigir tuas idéias, saia correndo sem olhar para trás. É fria! Tu vais errar não por que és estúpido, mas porque só se aprende errando. Agora, persistir no erro é sim estupidez, lamento.

Jesus tem, acredito, uns quinze bilhões de anos. Pois foi errando e aprendendo durante todo esse tempo que ele chegou ao ponto de poder construir um planeta próprio para dirigir, onde acolheu alguns milhões de marginais que estavam atrapalhando quem queria progredir em um mundo mais avançado; esses marginais somos nós, fiote. Pois se o próprio chefe do planeta diz "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará", quem esses manoéis coloquiais são para querer censurar a leitura e as discussões sadias dos outros? Para conhecer a verdade é preciso estudar e investigar, o que não é possível com "presidentes" doentes transformando práticas milenares em superstição e Doutrina em dogma. Eles não conhecem de verdade o que falam.

Implantar um pensamento crítico e racional entre os crentes? Sou totalmente a favor, eu sou muitas vezes frio e calculista de tão racional. Mas não pensem que imitar os céticos vai atrair sua simpatia e convertê-los do ateísmo. Eu já fui cético e só por mim mesmo é que acordei dessa bobagem pseudo racional, ceticismo é falácia de orgulhosos. Foi justo com o apoio da bruxaria que deixei de ser cético para me tornar celtico. Não devemos de modo algum tentar colocar o cérebro à frente de tudo, porque não é com acumulo de conhecimentos que vamos nos livrar do ciclo reencarnatório. Se assim fosse, meu computador seria um arcanjo, mas é um capeta. É o coração que nos prende ao corpo, é por ele que nos chega a intuição e é ela quem deve guiar a parca razão humana. Tão parca, que não tem méritos para determinar sozinha o que é exótico e o que é endótico. Em verdade vos digo, nenhuma religião ou seja o que for, se aproxima mais do cristianismo puro do que o druidismo celtico, que é a essência da bruxaria branca.

Na dúvida, duvide do chefe. O chefe, ao contrário do Mestre, ainda é humano.