domingo, 8 de novembro de 2009

Dogma e religião

Aparentemente indissociáveis, são completamente incompatíveis. Não que não existam dogmas verdadeiros, eles existem, mas um dogma é uma verdade inquestionável, contra à qual nenhum argumento vigora. Todos os dogmas verdadeiros são preexistentes à humanidade, como a gravitação e o magnetismo.
Para ser inquestionável se necessita da perfeição, que está fora do alcance de qualquer criatura. Mesmo um Papa. Ainda que ele receba inspiração do alto, terá que interpretá-la, nisto vai usar os conceitos de que dispõe, que são humanos; falíveis.

É neste ponto que a maioria dos teístas e ateus erram crassamente, um tentando defender e o outro atacar as religiões, se baseando em seus dogmas. Tendo um dogma religioso sido erigido por homens, muitas vezes de coração duro, ele terá destes os conceitos pessoais de conduta sobre o qual se apoiará. Tal dogma terá sido, quase sempre, formulado para controlar um povo de tendências primitivas e altamente rebelde, não se aplicaria mais à maioria dos povos.

Analisar uma religião por dogmas é reduzí-la a um partido político. Quem o faz se esquece da verdadeira função da religiosidade, que é nos colocar de volta ao caminho do qual nossa rebeldia e orgulho exacerbados nos tiraram.

Para retomar o ponto de onde paramos, é necessário fazer o que se chama errôneamente de "pobreza de espírito". Não é pobreza, é desapego. Pobreza é escassez de recursos, ter menos do que se necessita para uma vida plena. Completamente fora de propósito. Para se retomar o caminho perdido é necessário não dar à matéria (nem a si mesmo) mais inportância do que realmente cabe. Nem menos. Para pessoas muito úteis, ser rico é uma necessidade, pois a abundância de recursos se justifica pelas obras que pratica. Ninguém que faça uso nobre de sua fortuna está privado das benesses celestes, muito pelo contrário.

Se apoiando em dogmas, teístas e ateus se apóiam em impressões humanas, muito susceptíveis à deturpação da conveniência de quem estiver no poder. Foi assim em Roma.

A bem da verdade, a maior parte da responsabilidade pela ploriferação dos ateus é dos próprios religiosos. Em vez de interagir com a essência doce e morna de sua religião, se entrega à dureza áspera e amarga de suas leis. Leis feitas (ou interpretadas) por homens, quase sempre carregadas de misoginia e etnocentrismos, muitas vezes feitas para manter intacta a situação que lhes parece mais confortável, confiando que "um dia" alguém encontrará um modo suave de reorganizar tudo. Até hoje a maioria dos povos espera que alguém no futuro o faça. Não hoje, sob hipótese alguma, seria escandaloso e imoral. Que moral. Para que serviria hoje? Quem freqüenta templos e pratica as regras de uma religião é, em sua imensa maioria, um prato feito e suculento para qualquer um com um pingo de cultura.

Regras são necessárias para nosso actual nível de evolução moral, mas só se aplicam ao nosso tempo, de modo algum podem resistir por mais de um século sem alterações. São regras humanas, aplicáveis à maioria dos humanos, na maioria dos lugares. Há humanos e lugares aos quais só causam problemas, mas sacerdotes e seguidores insistem em aplicar essas regras a todos, como se tivessem sido impostas pelo Altíssimo.

A fé não pode ser cega, pois é por ela que o religioso se guia. Lembram de alguém ter falado sobre cegos guiando cegos? Pois é assim que são aqueles que seguem os dogmas de uma religião sem olhar para os lados e sem se importar com as conseqüências de seu radicalismo.

Eu tenho fé. Sei no que acredito e porque acredito. Não é da conta de quase ninguém, pois é uma programação feita para mim, como minhas impressões digitais.

Quem disse que a fé deveria ser cega o fez por questões políticas, criando um dos dogmas mais nocivos da história da humanidade, pois acaba por louvar a ignorância. Então, mais uma vez, tenho que dar a mão á palmatória do ateu. A religião deveria alavancar nossa evolução, não atrasá-la.

Nós estamos atrasados, muito atrasados. Mundos que eram primitivos durante a nossa idade antiga, nos ultrapassaram em muito. Enquanto discutimos se isto é certo ou errado à luz da lei, eles simplesmente testam e estudam para colocar ou não em prática.

Na dúvida de minha mediocridade humana, sigo um único dogma. Não no sentido mundano e egoísta, que desvirtuou seu nome, confundindo-o com paixão: Só o amor vale à pena.

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