domingo, 2 de setembro de 2012

O lúdico na magia - Exercícios


Há muita gente com  dificuldades em visualizar algo que parece ser tão abstrato, pela cultura ocidental, como os chakras. Da mesma forma, tem dificuldades em deixar as energias fluírem, pelo simples facto de não conseguirem se imaginar como condutores de energia.

Lobsang Terça-Feira Rampa disse que tudo começa na imaginação, que os ocidentais perdem uma ferramenta poderosa por ignorarem-na. E é verdade. A imaginação modifica o cérebro, o que faz gente honesta se perguntar os motivos de a neurologia não a utilizar, mara auxiliar os tratamentos. Todo e qualquer pensamento molda cérebro e mente, mas a imaginação tem um poder adicional, porque é mais próxima àquilo que o indivíduo deseja.

Por essas e outras, enumero algumas dicas simples e lúdicas de como desenvolver a capacidade de visualização.
  1. Os chakras: Imagine-os como cata-ventos. Ponha-se em frente a um espelho e veja os sete cata-ventos girando, coloridos, brilhantes, cada vez mais rápidos. Imagine-os com seus eixos colados ao teu corpo, nas partes correspondentes. Quando estiveres craque em localizá-los, passe a meditar imaginando-os a girar, cada vez mais depressa, mas acelerando dentro do que puderes acompanhar. Com o tempo, imagine leds nestes cata-ventos, porque os chakras brilham muito, tanto mais quanto maior a freqüência vibratória;
  2. A aura: Imagine-se dentro de várias bolhas coloridas e transparentes, mas tão finas que as cores só sejam vistas nos perímetros. Essas bolhas têm o formato aproximado de teu corpo. A primeira é quase rente ao corpo, a segunda um palmo mais volumosa, a terceira varia de pessoa para pessoa, mas podes imaginá-la a meio metro de tua pele, para começar. Imagine que elas têm iluminação própria e que brilham mesmo à luz do dia. Quando a imagem dessas bolhas áuricas estiver clara, imagine que todas elas têm milhões de filamentos com espessuras microscópicas ligadas ao teu corpo, o que acontecer com ele as afetará e vice-versa;
  3. O fluxo de energia: Por infantilesco que pareça, imagine os Ursinhos Carinhosos. Eles soltam raios coloridos pelas suas barrigas. De onde saem esses raios? De seus corações bondosos, é claro. Ainda que pareça açucarado demais, é mais ou menos isso o que acontece. Agora imagine um ursinho soltando raios por diferentes partes do corpo, de acordo com seu desejo, com cor e intensidade propositados. Imagine o fluxo de energia percorrendo braços, tronco, pescoço, os nervos ópticos, pernas, enfim, cada parte do corpo servindo de canal. Agora imagine-se sendo esse ursinho. Pronto, já podes começar a exercitar esta parte;
  4. Telepatia: Tenham em mente as anteninhas de vinil do Chapolin Colorado. Imagine que elas estão ancoradas em uma espiral que cobre todo o teu crânio. Feito isso, vem um exercício simples, mas que pode ser constrangedor para alguns. Ande normalmente pela rua e preste atenção nos pensamentos que lhe vêm. Olhe ao redor e tente deduzir de que pessoas eles vieram, porque a maioria deles não terá sido sua. Aja com discrição nesta hora, porque muita gente não tolera ser encarada, e uma simples olhadela de lado pode ser interpretada como desafio. Lembre-se, o mundo está neurótico, então aja com discrição. Localizadas as prováveis fontes dos pensamentos desagradáveis, imagine as antenas se regulando para bloquear aquelas pessoas naquele momento. É um talento que poucos conseguem desenvolver, porque requer muita dedicação, mais do que a vida neurótica permite à maioria, mas vale à pena. Quando conseguires bloquear e filtrar, estarás pronto para tentar se comunicar com alguém, só peço que se porte com sapiência, porque receber mensagens telepáticas pode causar incidentes graves, especialmente se a pessoa jamais esperar receber uma;
  5. Contacto com outras dimensões: Bem, aqui há o complicador do livre arbítrio. Eles podem escolher se te aceitam ou não, sem terem que dar satisfações a respeito. Ainda assim, a comunicação pode ser facilitada da seguinte maneira: Imagine cinco portas dentro de tua mente. Podem ser mais, mas o básico é haver cinco. Uma abrirá permanentemente para um vale cheio de pedras preciosas e flores silvestres, a seguinte para uma montanha altíssima, a terceira para um vale de vulcões, a quarta para um ambiente sub aquático, a quinta se abrirá para uma luz muito intensa que virá do alto. Absolutamente sob hipótese alguma mentalize uma porta para baixo. Comece a imaginar os ambientes para os quais as portas se abriram, um de cada vez, tendo o cuidado de vigiar teus pensamentos, porque eles te denunciam e podem te banir de uma vez por todas do lugar. Com o tempo e a aceitação, comece a imaginar uma casinha em cada ambiente, comece com arquiteturas humildes, mas que combinem com os lugares. Com o tempo, as casas poderão ficar maiores e mais complexas, com cômodos e jardins, mesmo a que fica entre os vulcões, esta deverá ficar em um pico seguro. Facilita muito desenhar, ainda que em traços rudes, o que tiveres imaginado, faça ao teu gosto. Com um pouco de sorte e muito mérito, o contacto será feito, mas estejas preparado para ouvir perguntas curtas e grossas, não necessariamente grosseiras;
  6. Telecinese: Aqui a porca torce o rabo e dá lacinho. Porque o subconsciente, à tua revelia, vive te sabotando com "Será que vem? Será que vem?" em um exercício onde a mais tênue sombra de dúvida, é garantia absoluta de fracasso. Aconselho a assistires aqueles desenhos animados dos anos trinta atá meados dos anos setenta, em que o absurdo era o normal. Mas assista a todos os que puderes, para só depois começar com os exercícios. Feito isso, escolha bem os objectos, que sejam leves, baratos e inofensivos. De agora em diante, elimine a medição automática de espaço e tempo que nós temos, na telecinese eles não existem. Não importa se aquela caneca da Betty Boop está longe ou perto, passe semplesmente a ir até ela, sem diferenciar se está ao alcance da carne ou do outro lado do cômodo. Faça este exercício de ignorar a distância até ela deixar de ser um obstáculo físico, para ser apenas uma dimensão que pode ou não ser levada em conta; aqui ela não o será. Quando aprenderes a ignorar o espaço, comece a imaginar a tua aura, aquelas bolhas lá de cima, se moldando ao teu bel prazer. Agora, sempre que for pegar um dos objectos escolhidos, imagine a aura se esticando um pouco para frente, e estique o braço em vez de se encostar no balcão para pegá-lo. Com o tempo o "será que vem?" desaparece, por pura falta de temores para alimentá-lo. É de se esperar que o tato fique mais sensível, e que a aura alheia passe a ser percebida por ele. Às vezes incomoda, mas é útil para conseguir identificar pessoas e animais que não estão no teu camp visual.
Não é tudo, mas é o bastante para o iniciado, ou aspirante, desenvolver não só o controle onírico, mas também o mental e por conseqüência, o auto controle pessoal em todas as situações práticas da vida. Todos os exercícios estão interligados, um influencia positivamente os demais.

Até que ponto obterás sucesso com eles, depende mais de ti do que de qualquer outro factor. Só posso adiantar que não espere mentalizar um Mercedes-Benz conversível e vê-lo se materializar na sua frente, não pelas próximas décadas. O que eu enumerei é uma bengala, algo que facilitará bastante alcançar teus objectivos, como tem facilitado para mim, mas uma bengala não anda sozinha... e o caminho é bem longo.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Da estreiteza do mal


As pessoas se perguntam, ou deveriam se perguntar, como a indústria do entretenimento tem dado tanta ênfase e força aos antagonistas, especialmente quando eles encarnam perfeitamente o mal. Aliás, me surpreende que muitos iniciados e aspirantes não se questionem a respeito, e até torçam para os cafajestes, só porque o mocinho não é dado a esbórnias e não tenta seduzir o público; reconheço que mocinhos aguados e insuportáveis, têm sido o estereótipo do herói moderno, mas isto é conseqüência daquilo.

Bem, cari leitori, involuntariamente os dogmopatas estão certo, é um sinal do fim dos tempos. Não como eles pensam, e até desejam, mas é. Como os habituais sabem, em Dezembro Satanás, Hitler e toda a gangue que nos arrastou para este planeta expiatório, serão degredados de novo, desta vez para um planeta que faz o nosso jurássico parecer o jardim dos ursinhos carinhosos. Acontece que o líder deles já sabia disso, burramente insistindo em vez de mudar sua conduta, e deixou instruções claras para ser vingado, para que suas legiões sombrias causassem o maior mal possível à humanidade, enquanto pudessem. Se é o que se pergntam, não, ele não dá a mínima para as conseqüências que seus seguidores enfrentarão, por mais essa dívida contraída.

Daí que as hostes abissais estão revoltadas e dispostas a tudo, cegas por arrastar o maior número de pessoas que puderem para seus domínios. A revolta é alimentada pelo desespero de saberem que a revolta é inútil, que só vai acrescentar sofrimento, para quando eles precisarem reencarnar, o que provavelmente significará mandar muitos deles para planetas piores do que o nosso, ainda que provisoriamente, embora nem de longe se comparem ao que aguarda os idiotas que vão embora neste ano.

Denigrir o que é bom, belo e justo, faz parte do desespero. Eles se aproveitam das más tendências, que iludem os artistas por parecerem dar retorno rápido, na realidade apenas um alangésico a disgarçar o vampirismo. Daí também darem carisma e inteligência aos bandidos, em detrimento dos mocinhos. Daí eu não assistir à maioria dos filmes que fazem hoje em dia. Qualquer semelhança com a política não é mera coincidência. Já disse aqui que Brasília é a maior mantenedora de magia negra do país, lembram?

Embora o cenário seja triste e periclitante, carissimi, ele tem prazo de validade. Embora o mal pareça enorme e invencível aos olhos de muitos de vocês, na verdade ele é tão frágil, efêmero e mutável, que só sobrevive em condições muito específicas, em uma fase estreitíssima da evolução de uma humanidade. Posto que o tempo também só existe em certas condições, restando ao espírito puro apenas o espaço e olhe lá, o mal pode ser considerado uma faixa transversal de poucos milímetros, em uma estrada de milhares de quilômetros. O mal só começa a existir depois que a criatura recebe o livre arbítrio, e termina bem antes de se concluir sua jornada carnal... Isso quando ele acontece, alguns raros espíritos passam incólumes do começo ao fim desta jornada.

Acontece mais ou menos assim: A criatura começa a ter condições intelectuais de escolher o que fazer ou não, em vez de simplesmente reagir ao ambiente. Em dado momento, perceberá que escolhendo suas ações, pode mudar o próprio destino, cabendo-lhe então decidir se mata o sujeito ao lado ou o ajuda a caçar e colher mais. Não preciso dizer o que nós escolhemos. Como conseqüência da escolha errada, e aqui cabe o termo, o humano em questão começa a ver que seus problemas mundanos se resolvem mais rapidamente, embora fique momentâneamente sozinho e desprotegido. Daqui ele começa a procurar outros de sua espécie, entre os quais decidirá se repete ou não a façanha, só que em grupo ele pode acabar sendo punido na mesma moeda por seu atrevimento, pagando assim, imediatamente, pelas conseqüências de seus actos, restando então reparar o mal feito à primeira vítima.

O episódio contado é simplificado, porque na alvorada da consciência as dívidas ainda são simples e fáceis de pagar. Mesmo assim é necessário reincidir muito e com muita vontade para que o mal se instale, e nós fizemos isso! Não adiantaram os milênios reencarnando nas peles de povos inimigos, de grupos rivais, porque o mal da nossa humanidade não distingue absolutamente nenhum ítem discriminatório. O mal da humanidade diz apenas "Eu tenho o direito e os outros o dever de suprí-lo" e ponto final. A raíz de todos os males da humanidade é o egoísmo, não importa que rótulos pomposos os intelectuais de ar-condicionado inventem.

É enganoso, e até perigoso, taxar de mau um ser que acabou de adiquirir consciência e tem sua primeira vida como humano. Nesta fase, ele não intenciona fazer mal aos outros, ainda está muito subordinado às necessidades fisiológicas e não compreende mais do que um palmo além delas. Seu raciocínio ainda está limitado à altura do umbigo, quando muito. Só aos poucos é que vai perceber que fazendo isso, aquilo vai acontecer. Ele não sabe que colocar a cabeça na boca de um leão é perigoso, sus instintos simplesmente dizem para não fazê-lo e ponto final, então ele não faz. Só quando passar a perceber que os animais que o leão come também foram mortos, é que começará a raciocinar a respeito. Até lá, só o medo hormonal o afastará do perigo.

Da mesma forma, antes de ascender, o cidadão já terá se livrado do mal, sem o que não conseguiria levantar a cabeça acima do lodo de suas paixões, assim não conseguindo ver o que a escuridão delas nos priva. Uma vez percebendo essa luz, já sem ser cegado por ela, consegue-se perceber que os danos causados pelo mal, são maiores do que os prazeres proporcionados. Mais uma vez, apenas analgésicos para não se perceber a picada do vampiro. Uma vez percebida a sua presença, este vampiro não consegue mais se aproximar e busca outra vítima, ou definha até virar pó.

E como nós chegamos ao nível de maldade de hoje? Melhorando muito. Os crimes que hoje nos parecem bárbaros, hediondos, monstruosos, noutras épocas eram práticas toleráveis. O que a bíblia descreve do sofrimento dos cristão, não é nem metade do que lhes aconteceu. Torturar cristãos e simpatizantes até a morte, de modos que não colocarei aqui porque não é para suas cabecinhas impressionáveis, isso inclui o tenentão da rotan aí, era um entretenimento popular na época de Nero. Para desviar atenções da decadência de Roma, a prática intensiva do mal a um grupo incoveniente era incentivada pelo império. Sim, Nero faz parte da turma que vai se lascar rapidinho.

E como nós chegamos àquele nível de crueldade? Vestindo a carapuça. Foram muitas encarnações repetindo para nós mesmos "é isto o que eu sou, é isso que eu vou fazer", alimentando larvas astrais horrendas e formas-pensamento mostruosas, que foram facilmente confundidas com demônios e desuses do submundo, mas eram só criaturas astrais saídas de nossas mentes lesadas. Quando lhes eram feitas perguntas, na realidade elas respondiam o que nós queríamos ou temíamos ouvir, porque era de nós, indivivualmente ou em grupo, que elas se alimentavam e se supriam de argumentos. Entenderam agora quem responde ao comando de pastores picaretas e místicos corrompidos? Pois é. Houve uma longinqua época em que era infinitamente pior.

O que acontece hoje, é que há muita gente que não reencarna desde aquela época! Há cidadãos que têm medo de enfrentar as conseqüências de seus actos desde o alto império romano, alguns até antes, mas sabem que terão que fazê-lo de qualquer jeito, a partir de algum momento. Essas pessoas têm clara na memória as lembranças de suas épocas, e inspiram fortemente os trevosos revoltados. Foi o que eu disse, eles vestiram a carapuça e não conseguem mais sair sozinhos desse círculo vicioso. Terão que ser abortados muitas vezes, e viver muitas vezes com limitações totais de suas inteligências, como várias encarnações com hidrocefalia.

Certo, eu falei de um monte de coisas e cousas, que fazem o tempo de maldade parecer uma eternidade. Exactamente isso, o tempo faz parecer. Acontece que o tempo e o espaço são ilusões das quais dependemos, e dependeremos por muito tempo, para nos orientar em nossa jornada triste. Mas são só ilusões. O tempo muito mais do que o espaço. Com isso poderemos fazer uma comparação simples, já que o tempo nada mais é do que a nossa permanência em dada faixa evolutiva, assim podemos fazer uma medição simplificada do tamanho do mal, quando ele existe, na existência de uma criatura.

Quando o  espírito é criado, então puro e à imagem e semelhança do Criador, ele não é bom nem mau, pois um adjetivo só existe em função do outro. Dos bilhões de anos entre a primeira experiência biológica, como algo mais simples do que uma priocarionte, até o momento em que adiquire consciência, já como uma criatura altamente complexa e de cérebro extremamente sofisticado, não existe um só segundo de maldade. Durante todo este período, só existe a satisfação de necessidades, a agressividade em maior ou menor grau ditará tendências, nada além de tendências. Ser altamente agressivo durante uma caçada, com as caças, é desejável em um caçador primitivo, até porque toda a agressividade tem seu clímax quando o animal é abatido, daí em diante é só alegria. As armas de fogo facilitaram a vida do caçador, mas tiraram-lhe o clímax que o mantinha calmo em sociedade.

O mal acontece quando a agressividade é utilizada contra seus pares, deliberada e desnecessáriamente, não um ou outro, mas as duas juntas: deliberação e futilidade de agir daquela forma. Tomando o princípio darwiniano, de que não temos sequer cem milênios de real civilização humana na terra, provavelmente nem cinqüenta, o tamanho do mal é insignificante. É mais ou menos como 20m em um trecho de 1km, não dá meia quadra. E, apesar de o desespero coletivo, o famoso efeito manada, berrar histericamente o contrário, o mal está dando seus últimos suspiros; ele não dura nem três séculos mais.

Temos que considerar ainda, que de então para frente nós teremos um longo caminho de regeneração. Vai no mínimo um milhão de anos para que consigamos retomar o nível que tínhamos, quando começamos a fazer baderna em Capela e fomos degredados para cá. Depois deste período, ainda teremos alguns milhões de anos até voltarmos a ser espíritos puros. Daqui em diante, tudo terá sido apenas experiência, não nos causando boas nem más reações, nos será indiferente em nossas vidas eternas, servindo apenas para as funções de mestres de planetas, a que toda criatura está destinada.

Então podemos ficar sentados, esperando pelo bom da festa? Se fizeres isso, eu vou aí e te dou um cascudo. Como aspirante ou iniciado, tens a obrigação de ajudar nesta transição, começando pelo teu próprio ego: elimine-o. Não de uma vez só, mas começe a miná-lo com a negação do teu egoísmo, da tua péssima mania de achar que estás certo, de que tens a solução para os problemas do mundo, que tens o ponto de vista definitivo para A Verdade absoluta a que SÓ OS ANJOS TÊM ACESSO e por isso mesmo são humildes como ninguém. E pare de dar audiência para esses intelectuaizinhos ridículos, que tanta gente iludida aclama como "gênios", mas não passam de marionetes nas mãos dos trevosos.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Sobre Bardon 01


Estou lendo o Magia Prática, de Franz Bardon, tradução de Eddie Van Feu. Muita gente desceu a lenha na petulância da amiga Eddie, mas se esqueceu de perguntar ao próprio Bardon o que ele pensa da obra. Muito provavelmente os detratores são os menos aptos a contactar o mago debochado.
Aos que pretendem, e eu recomendo, estudar magia à sério por este livro, direi sucintamente o que podem esperar dele.
  1. Bardon é alemão. Para quem conhece bem ao menos um alemão, isto diz muita cousa, pois ele é curto e grosso. Não é grosseiro, mas não perdoa burrices e chama de burro, na cara, qualquer um com preguiça de pensar. Ele deixa claro que o conhecimento prévio e profundo das ciências formais não o impressiona, então o leitor petulante pode enfiar seus diplomas acadêmicos na sacola e ir tocar noutra freguesia;
  2. É um excelente professor. Ele exige tudo de seus leitores, te obriga a raciocinar, meditar e fazer paralelos entre a obra e a tua própria experiência de vida. Muito provavelmente ele acompanha de perto aqueles que se mostram interessados de verdade pelo aprendizado, muito provavelmente esses alunos já viram aqueles assuntos noutras encarnações, muito provavelmente alguns destes foram seus colegas ou pupilos na magia;
  3. O que leva a este terceiro ítem: Ele escolhe e ajuda como pode os que se interessam de coração pelo aprendizado, especialmente a parte ética, mesmo os alunos de progresso lento e que precisam repetir bastante vezes um trecho, como eu. Várias suposições físicas que eu formulei, desde a época em que era cético, ele confirmou, inclusive a possibilidade de se neutralizar a gravidade a baixos custos, só não sei ainda como, questão de tempo;
  4. Tem mais a ver com Tex Avery do que só a aparência. Bardon tem um senso de humor muito sutil, que premia quem o percebe, mas chama novamente de burro quem tenta levar com formalidade, como um ponto sério e misterioso de sua sabedoria. Não que não seja um foco misterioso de sua sabedoria, mas é algo que se esclarecerá espontâneamente, quando o aluno estiver pronto, sem precisar forçar. Entendeu? Não? Então vá ler outro autor;
  5. Premia novamente o aluno atento e sincero com dicas de práticas mágicas fáceis, simples de serem aplicadas, desde o começo do livro, bastando ter interesse sincero e coragem para raciocinar por conta própria. Não importa se teus métodos não são os mesmo que os dele, esses pormenores variam mesmo de mago para mago, assim como o modo de consultar varia entre bons médicos, sem que isso torne um deles melhor ou pior;
  6. Precisa de paciência e muita, mas muita humildade mesmo! Se fores um mimado, que achas ter nas mãos a verdade de tudo o que existe, ou estacionas teu carro em cima da guia rebaixada para cadeirantes de propósito, vais se irritar muito com a grande quantidade de repetições, tanto de termos quanto de passagens completas. Ele não quer deixar espaço algum para dúvidas desnecessárias, só para as construtivas, por isso mesmo, apesar de repetir "corpo, corpo, corpo, corpo..." como um vinil furado, seu estilo é rápido, não dando tempo para o leitor perguntar ao próprio ego, das formas de aquilo poder servir para enaltecer sua figura. Por ser rápido, as repetições ajudam a fixar as partes já lidas. Ah, se meus professores tivessem sido assim...
  7. Muitos de vocês terão a nítida impressão de que já leram aquilo, a ponto de antecipar com clareza algumas das próximas passagens... e realmente já leram. Como já disse, ele acolhe com carinho e rigor os que já tiverem visto algo sobre o assunto, de forma séria, e dá os lampejos de memória de que necessitam. Como ele consegue? Oras, eu não estou falando do Mister M, estou falando de Franz Bardon!
  8. Alguns leitores, especialmente os que se colocarem como alunos, poderão ter impressões de vidas passadas. Mas não me refiro a vidas recentes, de trezentos ou quatrocentos anos atrás, falo de épocas realmente remotas, do Alto Império Romano para trás. Inclusive, especulando às minhas custas, sentir um cheiro que "não vem de lugar algum" e logo identificar como papiro fresco;
  9. Pela ajuda que ele oferece aos puros de coração... Sempre quis escrever isto em um artigo... Um filólogo com pós-doutorado, que tenha a intenção pura e simples de desvendar mais um autor esotérico, terá um sucesso pífio, enquanto quem ler a tradução mais tosca, de coração aberto, começa a a fazer operações espirituais e outros trecos legais do gênero. Não adianta saber ler alemão em todos os seus dialetos, se não souber ouvir o que ele tem a dizer;
Não é uma leitura fácil, não para quem não gosta de ler, nem para quem não tem imteresse sincero pela reunificação com a Fonte da Criação. Tampouco é um livro para ler, achar legal e guardar na gaveta, até porque depois ele te acerta, no astral. É um livro para se ler, reler, praticar o que se puder com todo o empenho que se possa ter e guardar para consultas. É um livro para a vida inteira. Posso dizer que, depois de começar a ler Magia Prática, a Bíblia e os mistérios do judaísmo ficaram mais claros de compreender. Na verdade, de cara, Bardon me mostrou a raíz mais remota do cristianismo. Onde? Ah, meu amigo, se tu não percebeste, é porque não é para ti... nem Golzinho tijolo.

Sem querer, mas já propagandeando, inevitável neste caso, eu recomendo a compra da obra. Dei minha senha de crédito, confiando que não iriam comprar um Cadillac para eu pagar, e me dei bem. Descontando a demora do que um dia já foi um dos melhores correios do mundo, com pequenos danos no envelope, prudentemente de papel espesso, o livro se paga logo nas primeiras páginas. Não é por ter sido transcrito e  traduzido por duas amigas de alma, elas sabem o quanto posso ser ácido, é porque a obra é realmente compensatória. Lógico que a tradução sempre leva traços de quem a fez, mas para o bom mago não importa se o caldeirão é aquecido por aroeira ou pau de goiabeira.

Com quantos paus se faz uma varinha?

domingo, 20 de maio de 2012

A árvore gigante


Nenhuma árvore chega aos céus, se suas raízes não chegarem ao inferno. É o mesmo com as pessoas, ninguém consegue alcançar a iluminação, e conseqüente saída da roda reencarnatória, sem saber lidar com todos os seus baixos instintos. A vida é cruél, não?

Não! Não é.

Acontece, que o que fizemos de bom ou ruim, não desaparece. Pode até ser quitado, com as bordoadas das vidas terrenas, mas permanecem em nosso histórico, simplesmente porque tudo o que nos acontece hoje, é reflexo desses acontecimentos. Claro que existe muita perversidade, que as pessoas parecem gostar de colocar seus problemas sobre ombros alheios, que existe muita trapaça, at cétera. Sim, mas daquilo que nos foi designado, tudo está relacionado às escolhas que fizemos, desta ou d'outras vezes, geralmente produzindo dívidas com outras pessoas, que foram prejudicadas por elas; isso inclui a perversidade, o colocar seu peso em ombro alheio e a trapaça.

Sabiamente, o registro de todos os pensamentos e ações estão gravados nos próprios corpos astrais do indivíduo. É como se fosse um disco rígido perfeito, com capacidade infinita, acesso imediato aos arquivos e imune a todo e qualquer ataque. Cada ação que deixamos de resolver, fica no arquivo como erro. Como até os leigos em computação sabem, um erro, um dia, acaba por travar todo o sistema e haverá a necessidade de reformatação. É aqui que mora o inferno, porque a criatura se vê obrigada a a lidar, de uma vez só, com todos os seus erros, até os mínimos, que não foram resolvidos por negligência até com os mais importantes.

E quem dera esses erros ficassem paradinhos, hibernando à espera de uma solução. O disco rígido gira e, mesmo sem querer, acaba rodando aqueles erros, que geram mais errinhos e estragam até a melhor das intenções. Essas boas intenções, contaminadas pelos erros insolutos, acabam sendo usadas para justificar qualquer atrocidade, o que a história contemporânea mostra em fartura. É por isso que o inferno está cheio delas.

Sim, existe um lugar (meta)físico que pode facilmente ser chamado de inferno, e os espíritos muito envolvidos em seu orgulho e incapazes de lidar com seus erros, não se sentem confortáveis para ir a outro lugar senão para lá. Mas não é este inferno que devemos temer, dele saímos com a simples intenção firme de sermos melhores, ou mesmo com a ajuda de benfeitores. O inferno que devemos respeitar muito, é o que nós mesmos criamos, porque deveremos mergulhar nossas raízes nele e absorver seu veneno, até que ele esteja completamente esgotado.

A árvore até consegue crescer com raízes rasas, mas torna-se frágil. Vocês sabem o quanto o vento fica mais forte à medida que se sobe. Quem viaja regularmente de avião, sabe do que estou falando. Chegará um ponto em que a base não suportará e a árvore cairá. Ela pode ser reerguida, mas sem raízes profundas, ficará perenemente dependente de escoras, impedida de crescer mais.

Mas, depois de esgotado o veneno, a árvore consegue voltar a crescer normalmente? Sim, até mais rápido, porque já terá criado raízes fortes, tão amplas quanto profundas, e a escavação feita assegurará sua estabilidade aos ventos.

Até quanto pode crescer a árvore? Infinitamente, para cima e para baixo. Sei, crescer infinitametne para o inferno é algo assustador, mas devo esclarecer que o inferno, como agente repressor e punitivo, não existirá mais. E quem chega a este estágio, compreende facilmente que precisa ajudar os outros a crescerem também, por isso não tem problema algum em manter raízes para mostrar-lhe suas origens, erros, acertos e toda a bagagem que facilitará ensinar aos espíritos mais novos.

Apesar da assistência de quem já passou pela situação, nós quase sempre aprendemos do modo mais difícil, o da tentativa e erro, e erramos muito! Mesmo com toda a ajuda possível, e necessária, nossa 'salvação' é de nossa responsabilidade, só nossa e de ninguém mais.

Nem todos notam as semelhanças entre as mitologias, bem como as "coincidências" entre elas. Aprendi que elas nada mais são do que adaptações, variando de cultura para cultura, das vidas encarnatórias de espíritos evoluídos. Longe da deturpação humana, vemos que todas as divindades tiveram suas fases de infância, rebeldia, maturidade de sabedoria, sendo esta a em que deixam o mundo em definitivo. Ou, a em que suas copas tocam o céu. É por isso que os mitos têm tamanha carga social, psicológica, política, pedagógica, enfim, é por isso que a cada dia os especialistas aprendem mais com elas. E sempre aprenderão mais, elas são o tronco que une as divindades (não confundir com O Criador) que já estão nos céus aos pobres mortais ainda rastejantes, que oscilam do inferno para o limbo terrestre, na maior parte do tempo. Notaram a ajuda imensa que temos e a maioria nem se dá conta, até rechaça por questões dogmáticasa. E os livros de mitologia são quase sempre baratinhos, já que não pagam direitos autorais... Se bem que a Grécia está precisando deles, né...

Compreendendo a necessidade de aprofundar-se em seu próprio inferno, ele começa a ficar menos assustador. Tanto menos quanto maior for a decisão de não se pagar mais juros das dívidas feitas. Sim, claro, o sofrimento que isso causa pode ser muito grande, proporcional à negligência com esta obrigação. É como ir levando a saúde com a barriga e, quando inevitável, se descobrir que o tratamento mais longo, caro e doloroso, é o único recomendado. Ou seja, não é crueldade da vida, exigir que reparemos nossos erros o quanto antes, nem que busquemos olhar de frente os vermes da podridão que deixamos acontecer, por abafar o que já estava ruim. Quanto antes o fizermos, tanto antes nos livramos deste suplício.
Há espíritos raríssimos, que conseguem passar ilesos pelo início do exercício de seu livre arbítrio, até o último suspiro de sua última existência encarnatória. Tão raros, que nem são levados em conta, quando se faz uma estatística a respeito.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Convenção das Bruxas em Paranapiacaba

Patrícia Ballan, Eddie Van Feu, Carolina Mylius e Renato Rodrigues

Atenção, crianças, esta vaca digitadora finalmente deu uma dentro e se lembrou de falar da Convenção das Bruxas de Paranapiacaba... antes de ele começar. Neste ano, na nona edição.

Seguinte, para quem reencarnou neste mundo pela primeira vez e não sabe de nada, trata-se de uma londrinesca e aconchegante cidade no interior de São Paulo, onde todos os anos há uma convenção de bruxas, magos, feiticeiros, druidas (sim, eles ainda existem) celtas, umbandistas, ocultistas e até fãs de Harry Potter. O melhor da bruxaria positiva brasileira estará lá, de quatro a seis de Maio, com acesso livre.

O evento terá palestras, apresentações, rituais, trocas de experiências, crente dogmopata protestando, câmeras photographicas para tudo que é lado, poções, elixires, badulaques mágicos e tudo mais. O clima não poderia ser melhor, não no Brasil, com as construções antigas e a neblina que costuma aparecer para uma visita, dando o ar místico e misterioso que suplementa o encontro.

Há um espaço específico para os palestrantes e seu público, a Casa das Palestras, onde a amiga Eddie Van Feu fará uma sobre a Irlanda celta, druidas, reis e cavaleiros, no dia cinco, às 14h.

A Eddie, aliás, está organizando uma caravana. Interessados que puderem ir, liguem para (11) 7894-9672 (ID Nextel 9*88547) e falar com Michele. Mas vê se não me faz passar vergonha, não ligue a cobrar!

Esqueçam. acabei de saber que a caravana e a pousada estão cheias, mas a culpa não é minha, publicaram há sete horas e o povo já esgotou as vagas... mas nada impede que vocês vão por conta própria, ou organizem sua própria caravana.

Para informações detalhadas sobre a convenção, inclusive onde comer e dormir, ligue para a Casa de Bruxa: (11) 4994-4327. Querendo ir lá, é na Rua das Figueiras n° 2146, Campestre, São Paulo.

Wedsite da Casa de Bruxa, cliquem aqui.
Website da cidade de Paranapiacaba, cliquem aqui.

Não precisa ser bruxo para ir, basta ter bons modos e saber se comportar. Tietagem, pode, mas sem encher a paciência.

segunda-feira, 26 de março de 2012

A montanha eterna

Fonte: http://www.meupapeldeparedegratis.com.br/

Um discípulo, após muitos ciclos de aprendizado, se dirige ao seu mestre. Rigoroso, o homem avisou desde o começo que até para ter dúvidas, é necessário saber duvidar...

 - Mestre, posso, agora, fazer as perguntas que pediu para eu esperar até o momento certo?

 - Responda às minhas, primeiro. Como dormiu, filho?

 - Bem, mestre, obrigado.

 - Acordou alguma vez.

 - Três, somente, para verificar ruídos.

 - Que tipo?

 - Não sei explicar. Acordei com a sensação de que os outros precisavam de algum auxílio e fui me certificar.

 - Então vocês já está pronto para ter dúvidas e fazer suas perguntas. Comece.

Como de hábito, o discípulo faz um gesto de reverência, se senta em posição de lótus e começa a servir o chá com um pão rude, recheado de castanhas que ele mesmo colheu e armazenou, durante o outono. Aliás, enquanto os outros reclamavam das colheitas abaixo das expectativas, ele buscou alimentos para o mosteiro em outras fontes, sem que seu mestre precisasse instruir a respeito...

 - Mestre, responda à minha ignorância, o motivo de você aceitar homens e mulheres em seu mosteiro.

 - Eu não aceito.

O discípulo, surpreso, faz um olhar muito engraçado, tirando alguns risos daquele homem grisalho, mas não tão velho como as pessoas se acostumaram a considerar um mestre, que ele mesmo não se considera. Em todo caso, precisa ser chamado por algum nome, além do próprio de nascença, que é muito comum, então aceita a alcunha, mas não admite que o tomem por 'senhor', não se considera digno...

 - Alguns monges só aceitam homens, outros só mulheres. Algumas monjas só aceitam mulheres, outras só homens. Nos quatro casos, ele agem de acordo com a sua natureza, com seus motivos e seus objectivos.

 - E quais os do mestre?Por que 'não aceita' homens nem mulheres?

 - Porque não aceito sexos aqui dentro, eu aceito pessoas. Minha natureza é a de compartilhar meu aprendizado, na medida da capacidade de cada um de vocês, sem olhar para o que é supérfulo, para que cresçam e se sintam plenos em seus próprios caminhos. Meu objectivo é fazer vocês escalarem a montanha eterna, me alcançarem e, com a ajuda da Fonte, que me ultrapassem.

 - "Montanha eterna", mestre? Nunca nos falou dela?

 - Pois bem, agora te falo, é o caminho que vocês estão fazendo. Enquanto as pessoas, apegadas aos seus orgulhos e suas vergonhas, raramente conseguem se fixar além da base da montanha, quase sempre oscilando entre ela e o vale, você está em uma altitude em que pode ver boa parte da região.

 - Eu não reclamo, mestre, porque abracei este caminho de minha própria vontade, estava ciente dos fardos e da escassez de repousos, de que fui alertado. Mas minha fraqueza ainda questiona o motivo de ser tão íngreme, às vezes a ponto de ser quase vertical, com o peso nos puxando para o vale.

 - É justamente para isso, para que você despenque e se esborrache ao menor descuido.
Mais uma cara cômica e mais uma gargalhada do homem, que sempre ensina aos discípulos que ter bom humor é a única amenidade que podem ter, ao aceitarem suas lições...

 - Por que eu deveria me estatelar como uma fruta podre, mestre?
Mais uns risos e ele responde..

 - Não deve. O risco de cair é proposital. Com ele, você se mantém ocupado demais para pensar na vida alheia. Você se concentra na única pessoa que realmente merece sua raiva, seu desprezo e toda a sua ira.

Um breve olhar, dentro dos olhos, e ele percebe ser consigo...

 - Compreendo, mestre. Minhas posições políticas me deixaram vulnerável, quando ainda perambulava pelo vale.

 - Não, filho. Suas posições políticas, ideológicas, enfim, qualquer convicção é irrelevante, se você estiver no comando e não deixar que ela tome suas rédeas. Você estava vulnerável porque tinha orgulho de ser o que pensava que era, e vergonha de muitas pessoas não compartilharem de seu orgulho. Lembra-se, quando você chorou como uma criança, ao ver seus antigos inimigos em situação difícil?

 - Foi minha responsabilidade, mestre. Eu ajudei a colocá-los naquela situação.

 - Não. Eles se colocaram naquela situação. Enquanto eles e seus antigos amigos culpavam os estrangeiros de roubarem suas riquezas, empregando suas forças no ataque à ameaça imaginária, seus recursos minguaram, eles descuidaram de seu trabalho e da assistência ao próximo. Você chorou porque eles não eram mais seus inimigos, eram tolos revoltados, que nem por isso deixaram de ser seus irmãos no mundo. Foi a primeira lição que você aprendeu, e aprendeu bem, escalou vários metros em um só dia.

 - Então mostre, mestre, em parábola, como o orgulho e a vergonha impedem que as pessoas comecem a subir a montanha eterna?

 - Não impedem. Orgulho e vergonha são duas grandes pedras gêmeas, uma não se afasta e não subsiste sem a outra. Como pedras, o lugar delas é no vale. São pedras afiadas, mas brilham bonito e escondem bem o rosto de quem as porta. Ferem, mas convém a quem as carrega.

 - Às vezes precisamos usar pés e mãos para escalar esta montanha.

 - O que é quase impossível com duas pedras pesadas e ferinas ocupando mãos e visão. São pedras feitas para se admirar, mas no lugar delas, às vezes para se proteger à sua sombra quando a luz é muito forte. Não se deve querê-las para si, elas têm utilidade limitada e restrita.

Alguns minutos de silêncio permeiam o quarto, enquanto ouvem-se sons de mantras em música pelo mosteiro. De tão ocupados, tão absorvidos em suas funções, os iniciados raramente vêem suas diferenças. O trabalho incessante, seja no que for, é uma regra de ouro do mosteiro, eles não têm tempo para pensamentos frouxos...

 - A serenidade do mosteiro, mestre...

 - Sim?

 - Não é do mosteiro. É nossa.

 - O que faz um lar, uma comunidade, uma nação, discípulo, não é o território, não é seu hino, não são seus estandartes, muito menos o seu rei. Tudo isso muda. Um terremoto abala a terra e ela desaparece sob seus pés; a língua muda com o tempo, e as palavras do hino fazem cada vez menos sentido; Os estandartes desbotam e rasgam com o uso, sem o qual eles não se justificam, conquistadores chegam e os trocam pelos seus. O que faz um lar, uma comunidade, uma nação, discípulo...

Deixa-o responder à própria dúvida...

 - São as pessoas que integram o lar, a comunidade, a nação. Sem elas, nenhum deles existe. Eu não tenho vergonha de ter sido um tolo, teria se ainda o fosse.

 - Sem vergonha, não há orgulho.

 - E minha caminhada montanha acima torna-se viável. A montanha é eterna porque jamais se chega ao seu cume, então.

 O mestre observa seu discípulo, percebe que está consciente de sua respiração, de seu corpo, da posição de cada dedo, a ponto de saber onde está um pequeno pedaço de pão, que pega e mastiga com suavidade. Respirando com serenidade, deixando cair uma lágrima. O mestre sabe que é de alívio...

 - Mestre, esclareça à minha ignorância, por que disse que é "quase impossível" subir a montanha sem usar as mãos?

 - Você acaba de subir alguns metros sem usá-las. O seu coração está tão leve, que em vez de puxá-lo para baixo, o puxa para cima. É o coração, não a cabeça, a parte mais pesada de uma pessoa. A cabeça, como os milênios provaram, não nos serve para nada além de nos dar meios de como comer, ver e ouvir.

 - Minhas mãos não podem ficar vazias mestre.

 - Então as dê aos seus irmãos e ajude-os a subir.

 - Como o mestre tem feito por mim?

 - Como meu Mestre tem feito por mim.

Serve mais um gole de chá de frutas e se serve em seguida. Passam a falar do mosteiro, dos aprendizes, das pessoas lá fora, que precisam de ajuda mais do que imaginam. Agora sim, ele é um noviço.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Não significam nada?


O que significa uma placa informando "proibido estacionar" em uma esquina? Nada. Absolutamente nada! É tudo invenção de figurões, que querem controlar nossas vidas, decidir o que nós devemos fazer com nossos carros, limitar nossa liberdade e ganhar dinheiro com multas. Por isso que eu não acredito nessas bobagens, que são até bonitinhas, dão a sensação de segurança ao mostrar um limite imaginário, para fazer as massas se comportarem direito, et cétera. Mas não, elas não existem de verdade, não mesmo. Já passei de duzentos por hora em um autódromo, que tem condições controladas e seguras, já andei na contramão quando não havia nenhum outro carro na pista, já dei cavalo de pau, já parei no meio da pista e tudo mais. Comigo nunca aconteceu e nunca soube de alguém que tivesse sofrido por causa dessas "placas de trânsito". O que isso prova de modo inconteste, dando-me a nota fiscal da verdade única e absoluta? Prova que leis de trânsito são superstições. E quem as segue é trouxa, é otário, é ignorante e merece ser humilhado em público. Eu sou biólogo com triplo PhD, sei que é impossível um organismo evoluir e se tornar um semáforo, portanto cale a boca agora!!!

É mais ou menos o que escrevi acima, que ouço e leio de ateus radicais, sobre os ritos, a religião, o folclore e (principalmente) o casamento. Já me ofenderam soltando fogo pelas ventas, por isso. Mas experimente estacionar na esquina. Pode ser que nada aconteça, mas o risco de um caminhão arrebentar a tua lateral, por falta de espaço para manobrar, é grande... Já aconteceu com uma Caravan, na esquina aqui perto. Nunca mais apareceu.

Por causa da manipulação da instituição Casamento, ao longo da história pós-atlântica, o número de pessoas que lhe negam e renegam sistematicamente qualquer valor é grande. Gente que nem tem (a maioria) intenções perversas, mas que gosta de gritar e encerrar o assunto para não ouvir de volta. Ah, como eu detesto retórica e prolixia! Deixo o outro ficar com a sua razão, não vai acreditar em absolutamente nada do que suas cartilhas não lhe permitem crêr. Casamento significa, na mais superficial e tímida hipótese, que a tua liberdade irresponsável já não existe mais. Escolha logo, ou casa ou permanece torrando a grana em caprichos, passando noites de esbórnia, fazendo viagens sem avisar ninguém, et cétera.

Bom, caríssimos, os ritos, mandingas e corruptelas mágicas são como as placas de trânsito, que indicam que caminhos seguir e suas regras, para chegar-se aonde se quer ir. O que faz as cousas acontecerem é o nosso contacto com o astral, muitas vezes a prática faz com que o próprio iniciaco consiga adiantar alguma coisa sozinho, mas isso depois de ele ter seguido as placas e respeitado os sinais.

Um tipo de ritual interessante, é o de passagem. Negligenciado pela sociedade de consumo, que hoje acredita que as galinhas já nascem (acreditem, muita gente jamais viu uma galinha) fatiadas e plastificadas no supermercado, disposta a pagar por uma praticidade a qualquer custo, o rito de passagem não age só no astral, ele prepara o indivíduo para o porvir, evita que o mundo da próxima fase o pegue desprevenido. Ele pode até apanhar, mas terá dado também suas bordoadas e garantido o devido respeito.

Por exemplo: Deixar a menina, que vai comemorar seu debute, uma semana antes da festa, privada de muitos de seus hábitos. Durante esta semana, ela sairia da escola e iria directo para os estudos em casa, sem ligações intermináveis para as amigas, longe inclusive de celular e internet. Não seria impedir o uso, mas atê-los às possibilidades do tempo de que um adulto dispõe, afinal é uma adulta que ela está se preparando para ser. Enquanto os garotos de quinze anos ainda estão fazendo campeonato de cuspe a distância, as meninas já estão aptas a assumir a lida doméstica e arranjar um emprego de verdade, não somente um bico. Como um bom iniciado preza a cobrança segundo a capacidade, as meninas têm sim que ser iniciadas antes nas obrigações de uma mulher. Assim, o debute serviria como despedida, a última noite de criança, no decorrer da qual os adultos deveriam tratá-la gradativamente com mais seriedade, até passar a ter com ela somente conversa de adultos. Mas funciona? Sim, funciona. Antes de as pessoas começarem a pagar para evitar qualquer mínima frustração, era este o papel da festa de quinze anos, avisar que a menina já estava apta a arcar com responsabilidades do mundo duro e implacável lá fora, não para encher o orkut com cenas de bebedeira e transgressões desnecessárias; o que prolonga indefinidamente, em vez de encerrar a infância que já cumpriu com seu papel.

Para o menino valeria a mesmíssima cousa, mas nunca antes dos dezessete anos, pelamor-da-bicicreta--véia-zangada, dificilmente ele não vai te fazer enfiar a cabeça no esfíncer, de tanta vergonha. Ele poderá até estar pronto para receber ordens de um oficial das forças armadas, mas para assumir a responsabilidade de um verdadeiro adulto, demora um pouco mais. O rito da formatura é mais adequado, embora também beneficie a menina.

O ritual do casamento não começa e termina na igreja. Ele começa no noivado e termina na lua de mel. Há cerca de cem anos, e ainda hoje em muitos lugares, casar era só garantir a perpetuação da família e estreitar laços entre comunidades, então os pombinhos se toleravam porque sabiam um que o outro não tinha culpa nenhuma. Só. Hoje, pode-se ver o seguinte: Os dois percebem que se bicam e atam namoro sério, um período no qual (ao menos deveriam) se conhecem em seus defeitos e virtudes, negociam como adultos que já são e aparam as arestas. Feito isso, vem o noivado, quando passam um a mandar mais na vida do outro. É assim mesmo, um passa a mandar no outro, interferir em tudo, mesmo sem querer, dando a ideia exacta do que se terá que agüentar no matrimônio. Paralelamente, os recursos antes destinados à satisfação pessoal, passam a ser empregados na construção da parte material do casamento. No frigir dos ovos, os dois vão se parecendo mais um com o outro, até as auras passam a vibrar de maneira mais próxima. Com a proximidade do enlace, que foi (NÃO FOI???) devidamente planejado e embasado, aquela euforia do "Ah, eu quero dar pra ele até arder!!!" cede paulatinamente lugar à serenidade, à vontade de trabalhar e construir uma vida em conjunto... Cruzes! Que oração mais careta!!! Mas é isso mesmo! Casar dá muita dor de cabeça, quem quer juntar só por juntar, para trocar fluidos e sair dizendo que tem vida sexual, esqueça o casamento.

No dia do casamento, a preparação dos noivos tem uma função clara, com seus devidos significados. Trocar a roupa normal pela da cerimônia, pode ser visto pelos dois e pelas famílias como o abandono da vida antiga, pela entrada na nova. Isto é muito importante pelo seguinte, os dois mostrarão à sociedade (gostem muitos ou não) o tipo de relação que terão. Mais ou menos luxo do que são capazes de sustentar, dá clara ideia de que o descontrole financeiro é um inimigo próximo e poderoso. Evite-se mandar fazer um fraque só para o casamento, bem como um vestido exclusivo e repleto de pérolas bordadas, se não forem muito ricos; e não há miséria que justifique usar mulambos feitos de TNT colado com cola tenaz, isso demonstrará um apego material imenso, que fará o casamento naufragar na primeira crise. Alugar roupas limpinhas e bem feitas é a medida para a maioria, a própria locadora faz os ajustes.

A entrada na igreja é um ritual poderosíssimo, mas nem mesmo um rito assim entra na cabeça dura de quem acha que sabe "Toda a verdade por detrás de tudo". A noiva indo e o noivo vendo-a chegar, é o sinal dos últimos suspiros da vida antiga, se ainda houver vestígios dela. No decorrer da marcha nupcial, as lembranças da juventude irresponsável vão ficando mais antigas, ainda que tenham terminado ontem, na despedida de solteiro. O pai entregando a moça, já foi sinal de troca de propriedade, hoje é "Se vira que a broaca é tua", sinal de que os dois estão por sua conta de então em diante. Ok, as cousas não andam tão bonitinhas e nem seguem todo o roteiro que manda o figurino, os deslizes são muitos. Estamos falando de humanos, lembram-se? Nem no que escrevi eu cheguei perto de descrever uma situação ideal, citei a possível.

Legal, Nanis, mas onde fica a espiritualidade nessa muvuca? Como eu citei um caso em que o casal (e lá em cima a debutante e sua família) age consciente o tempo quase todo, certo do que quer e disposto a pagar o alto preço, está no começo, no meio e no fim. Quando nós temos consciência (ma medida do possível) plena do que queremos e trabalhamos para sua realização, uma verdadeira brigada de espíritos de todos os níveis começa a agir para ajudar na viabilização. Desde os elementais mais primitivos até os mais elevados serafins da Terra, e alguns de fora, todos mexem nas tramas com que já estão trabalhando para que este passo importante na vida de uma pessoa, que é tornar-se ADULTO, se realize. Porque quando alguém decide abrir mão das cousas de menino para tornar-se homem, significa que também está aberto à evolução, para deixar de ser um espírito expiante para subir a regenerante, e logo em evolutivo. É claro que as trevas NÃO QUEREM ISSO NEM A PAU! Difamar esses ritos de passagem e amadurecimento faz parte de suas trapaças, corromper um conjugue que esteja em um momento de fraqueza, também.

Quer dizer que existe essa conversa de casamento para a vida toda? Eu sou testemunha de muitos, que só melhoram com o tempo. São casais que fizeram mais ou menos o que eu escrevi logo acima. Ninguém me contou, eu os conheço, e como pessoas eles são melhores a cada dia que passa. Quem não tem consciência da imoportância de uma relação longeva, não é capaz de conceber o quanto ela pode ser benéfica ao casal, quando as partes são sócias igualitárias na relação. Ninguém pode ser cobrado pela compreensão que não tem, mas os que têm o são, e quando acatam essa cobrança, todo o preço pago pela evolução que tiveram parece, ao fim de uma encarnação, medíocre.

Há muitos outros ritos, tantos que ninguém sabe quantos são. Quem conhecer dez por cento, é um verdadeiro Mestre no assunto. Mas estes dois são os que mais movimentam nossa sociedade e, sinceramente, são os que melhor ilustram o que todos os outros fazem pela pessoa. Entenderam por que não é qualquer música que serve para um casamento?

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A mais negra treva à mais clara luz


Já não bastasse o cataclisma pelo qual passou, com o colapso e completa destruição de sua comunidade, pela mesma fonte que lhes susteve por tanto tempo, agora se vê com os seus saindo de uma deriva melancólica, para a área mais perigosa em que poderiam estar.

Não há como evitar, sabem da iminência das conseqüências, mas a atração é irresistível. seguem cada vez mais rápido para aquele monstro frio e insensível.

Não têm onde se segurar, uma fonte de atrito para frear, enfim, absolutamente nada detém a aproximação acelerada. Não que faça diferença, que adiante, mas todos se desesperam e entram em pânico. Já aquele indivíduo, de tão aterrorizado com o destino que vê os demais grupos terem, não consegue sequer lacrimejar. Fica em sua impotência extrema, que seria facilmente confundida com resignação.

Na verdade quer sair daquela situação a qualquer custo, daria tudo o que pudesse providenciar para tanto. Mas vê, triste e de coração cada vez mais miúdo, comunidades muito mais fortes sendo engolidas, algumas com brilho extraordinário, ao redor das quais muitas outras prosperaram, perecendo nas garras daquele ser inominável e impassível, insensível aos gritos de dor e desespero de suas vítimas.

Com o tempo, suas entranhas sentem a proximidade do monstro. As suas e as de todos os outros. Não adianta repassar tudo o que aprenderam sobre não sofrer antes da hora, o tempo foi muito generoso, mas todo ele não foi suficiente. Resistiram à ruína de uma sociedade extremamente complexa e numerosa, à sua completa destruição por quem lhes deu o sustento desde o começo, de forma intempestiva e explosiva. De sua comunidade local, pouco resta, nada que lembre (nem nos mais loucos devaneios) o viço e a prosperidade que já teve.

Por alguns instantes, inútil tentar medí-los, a dor e o desespero dão lugar às lembranças mais lindas que guarda. Não que não tivesse problemas, por muito tempo eles tiveram muitos problemas, conflitos barbarescos que davam vazão à mais extremada selvageria já lhes cobriu o solo de escarlate, mas depois acabou. Um período incomparávelmente maior de paz e prosperidade tomou conta de tudo. Passou a amar maternalmente aqueles a quem queria esganar, nos primeiros tempos. Mas eles cresceram muito e foram para outras paragens, levando consigo as lições e as boas lembranças que lá tiveram.

Chorou por incontáveis anos pelas saudades, como muitos outros de sua comunidade, mas no fim a resignação de que tinham cumprido maestralmente seu papel com eles, acalentou-lhes de tal forma os corações, que viveram em uma paz sem precedentes, até sua estrela explodir.

Maldita lembrança da explosão! Agora se volta à realidade e ao desespero. Vê que a passagem a memória durou muito tempo, porque estão extremamente próximos ao monstro, estavam distantes quando começou a recordar. A qualquer momento serão eles os devorados.

De tão perto vêem que é muito pior do que imaginavam. Em vez de simplesmente devorar as vítimas, o monstro as dilacera vivas, lentamente, de modo que elas nem mesmo têm mais forças para gritar.

O monstro nem esperou terminar a vítima da vez e já começa a destroçar sua comunidade. Vê seus amados irmãos indo, impotentes, à gula voraz e insaciável do monstro, já calados de tamanha dor e tamanho desespero. Nem com a morte prévia podem contar.

Vão sendo dilacerados, inicialmente devagar, mas a cada elo que se rompe, os mais próximos ao glutão são acelerados até se soltarem sem volta, e então desaparecerem naquelas trevas que luz alguma consegue iluminar.

Não entende o motivo daquilo. Aquele é o seu mundo, ou o que resta dele. Não compreende o motivo de tamanho sofrimento, não se lembra de terem feito por merecê-lo.

Agora sente-se sendo puxado e rasgado. Jamais, em toda a sua longa existência, imaginou que pudesse haver uma dor tão grande. Grande a ponto de emudecer e perder completamente a capacidade de pensamento, de raciocínio, de tudo. Não há noção de tempo, só de dor.

É finalmente separado dos demais e, em vez de atenuar, a dor aumenta. A pressão faz com que sua extremidade "de baixo" vá mais depressa de a "de cima", rasgando-o aos poucos. Nem mais se lembra do monstro que lhe causa o sofrimento, só sabe da dor que está sentindo. Agora, em um tempo incomensurável, só existe a dor. Perde completamente o sentido de si mesmo, naquela escuridão dura e densa, que o estica e comprime ao mesmo tempo. Nem dá para se acostumar à dor, porque ela não pára de aumentar.

Já está dentro do monstro. Depois de ser separado daquilo que foi o seu mundo, agora tem sua casa, sua família mais íntima sendo separada, impotente, para depois ser brutalmente comprimida. A imensa distância que separava os elétrons do núcleo se reduz rapidamente a zero, logo as partículas começam a encolher, despencando em si mesmas até que as subpartículas começam a se tocar. Só existe a dor.

O tempo passa, afinal há um evento em andamento, o esmagamento contínuo que solidifica mesmo o efeito de campo em uma nova partícula. Só existe a dor. Não sabe quanto tempo se passou, sabe que que ele passou, provavelmente é a única coisa que aquele monstro não consegue destruir, afinal a própria destruição é um evento em andamento. Se os humanos ainda existissem, eles poderiam medí-lo. Mas provavelmente não há mais uma só partícula inteira do planeta Terra, o buraco negro já deve ter engolido tudo. A Lua foi vaporizada quando o Sol se expandiu.

Já no centro do monstro, tão brusca e dolorosa quanto o dilaceramento, é a inesperada expulsão que começa. O frio extremo, que faria o zero absoluto parecer tórrido, se converte imediatamente em um calor terrível, que faz a lembrança que tem do Sol parecer gélida.

Estranhamente volta a ter forças para gritar, e grita como jamais o fez nas dezenas de bilhões de anos que já conheceu. Com seu grito vem uma luz insuportável e uma aceleração terrível, que nem durante a atração gravitacional pôde conhecer. Não imagina que força seja esta, que o empurra tão violentamente para fora daquele gargalo faminto.

A dor passa rapidamente e se acostuma com a luz. Embora estejam todos diferentes, reconhece os seus naquele jato extraordinariamente denso e luminoso, tão concentrado e organizado, que a coluna não se dispersa por muitos anos-luz.

Sente um prazer indescritível, que faz desaparecer a lembrança do sofrimento passado. Sente-se forte como jamais em toda a sua existência. Está renovado, completamente diferente. Não sabe de que elemento químico faz parte agora, é diferente de tudo o que conheceu. Um estalo e então compreende, é aquele o motivo de tamanho sofrimento, não cometeu erro para ser punido.

Afastando-se rapidamente, olha a singularidade lá em baixo, agora com um pouco de carinho. Graças a ela, os milhões de anos de estagnação terminaram. Não é um monstro, é um médico, um reciclador que regenerou suas estruturas e deu-lhe vida nova. Que importa o tempo que passou lá dentro? Valeu à pena.

Olha para os astros desesperados, seguindo rapidamente para a renovação. Não adianta dizer-lhes algo agora, ele mesmo não ouviu senão os gritos. Eles compreenderão tudo, quando chegar a hora. Compreenderão e serão gratos.