Existe uma histeria anticapitalismo que cresce desde fins dos anos noventa, mesmo com o
capitalismo em si já estar morto desde o início do século, e mesmo sem haver
nenhum sistema econômico de verdade que funcione; estamos à deriva desde então. Essa histeria acaba gerando
uma phobia também a tudo o que é ocidental, gerando o crasso equívoco de que
tudo o que é oriental, é bom, justo, puro e virginal. Lamento meus queridos,
isso não existe e nunca existiu no orbe dos homens. Quem estuda a sério, sem
viés ideológico ou religioso, minimamente a história e a política gerais, sabe
que nunca houve nação boazinha, porque nações são formadas por pessoas,
espíritos degredados; trocando em miúdos, malas que não se comportaram e foram
expulsos dos planetas de origem.
Well, a vítima mais
recente dessa histeria antiocidental é a meditação. O que houve? Alguém não
conseguiu ficar relaxado e de bem com a vida, depois de uma sessão de
meditação? Por incrível que possa lhes parecer, sim, é isso mesmo. Vamos ao
breve histórico.
Hoje em dia e em
noite, qualquer um que aprende a relaxar um pouco já se considera um mestre Ascenso
da meditação transcendental. Com a recusa inconsistente de muitos “cientistas”
em reconhecer benefícios que não resultem de interferências químicas, não
existem parâmetros legais e técnicos para definir quem está ou não apto a
orientar a pessoa à prática meditativa. Mais ou menos como se qualquer um com
paciência para ouvir potoca, se achar apto a praticar profissionalmente psicanálise.
Um grupo de “pesquisadores”,
baseados exclusivamente em casos mal sucedidos, decretou que a meditação não
acalma, pelo contrário, só piora o comportamento do praticante... Oi?
Os casos relatados
incluem um sujeito que saiu de uma sessão altamente estressado, a ponto de ter
feitos horrores ao volante até bater em um poste. Relatos de angústia, medo,
frustração e outros bichos do gênero, são numerosos. Vocês, gente minimamente
familiarizada com os benefícios e riscos potenciais da lida espiritual, devem
estar de cabelos em pé, se perguntando se alguém esperava se livrar da samsara
com duas ou três sessões de meditação. É por aí mesmo.
Vamos aos factos
para os que acabaram de chegar, e aos que só estão olhando pela janela e pensam
que assim terão a mesma carga de experiência dos que põe a mão na massa.
Meditação não é brinquedo, não é inofensiva, não é nem mesmo garantia de sair
mais alegre de uma sessão, mesmo que conduzida por um RARO instrutor
competente. Meditação, se mal feita, pode induzir ao suicídio, meus amigos. Já
explico, só um minutinho...
O que a prática
meditativa faz, basicamente, é primeiro acalmar a mente, depois abri-la, em
seguida organizar para facilitar consertar o que for necessário. Acontece que
um bom orientador só pode fazer o que lhe compete, que é conduzir e socorrer,
se for necessário, o praticante. Se tu começas a praticar, a responsabilidade pelo
trabalho é tua. É aqui que os materialistas mais pegam no pé, porque meditação
é vendida como um milagre ao alcance de todos, como se fosse um tarja preta que
dispensa controle e receituário. Bem, pode ser um milagre, mas sua operação é
responsabilidade e risco do praticante. Vamos aos pontos citados:
·
Acalmar a mente consiste basicamente em
controlar a respiração, deixar lá fora o mundo exterior e permitir que os
pensamentos fluam. O que mais frustra é justamente a falha das pessoas no
controle da respiração, porque querem efeitos imediatos como um tiro na testa.
Nisso, não conseguem deixar lá fora os problemas que não fazem sentido em uma
sessão desse naipe. Por conseqüência com trema, para agravar a coisa, os
pensamentos não fluem como deveriam. Eles deveriam correr e ir embora, mas
ficam retidos no colesterol psíquico da ansiedade e do apego, e uma vez retido
o pensamento se torna muito evidente, trazendo à tona todas as lembranças e
lambanças relacionadas a ele. Vocês sabem muito bem o que a maioria de nós tem
guardada na memória, mágoas e ressentimentos são apenas dois exemplos, e não
são os mais graves;
· 1 -
A mente aberta, no meio de toda essa bagunça é
como um intestino descontrolado. Milhares de pensamentos e ressentimentos, que
talvez o inconsciente nem tenha avisado que estavam lá, começam a gritar todos
ao mesmo tempo. Aqui acontece uma versão muito piorada da projeção do ego. Algo
que seria minimamente controlável, em situações normais, se é que existe
alguma, agora flui como se ganhasse vida própria, como se uma larva astral se
aproveitasse de toda essa baderna para se alimentar e fomentar mais baderna; e
é o que acontece. Sentimentos ruins se retroalimentam até o praticante estar à
beira de um colapso, seja por infarto, seja por um surto psicótico... Foi o que
aconteceu no caso. Felizmente o cidadão arrebentou o carro em um poste, não na
multidão que não deixa Nova Iorque dormir;
· 2 -
Como organizar tudo isso? Como sair à tona para
respirar, diga-se de passagem, se a pessoa insiste em atacar todos os seus
medos e frustrações ao mesmo tempo? A que é talvez a função mais nobre da
meditação, fica travada. Como um computador mesmo, que só destrava desligando na
tomada ou tirando a bateria. Infelizmente não dá para desligar o corpo humano e
religar depois, não sem uma parafernália médica tecnológica gigantesca que
poucos hospitais no mundo têm. A salinha da “escolinha de meditação” não tem.
Com a organização travada, não há como consertar coisa alguma, e a tendência é
tudo se arrebentar de vez. Por favor, que seja o carro no poste, não vocês no
chão de um precipício!
3 - O que a meditação
faz de verdade, como vocês devem ter percebido, é colocar nossos demônios diante
de nossos olhos, prontos para serem analisados e postos sob nosso comando,
situação em que deixam de ser nocivos e podem ser até bons, de vez em quando.
Mas se tu não os controlas, eles te controlam. E sem noção de bom e mau, certo e
errado, seguro e perigoso, eles vão arrebentar coma tua vida e, se brincar, com
as próximas três encarnações, por carmas adquiridos em surtos psicóticos.
Agora alguém aí,
provavelmente o fulano que só observava tudo da janela, pergunta como deixam
uma coisa tão perigosa ser praticada sem um atirador de elite por perto.
Acontece que as técnicas meditativas foram desenvolvidas em épocas muito
remotas, quando o cidadão trabalhava de manhã, ia descansar, voltava mais tarde,
parava para o almoço, tirava uma sesta, recebia uma visita, concluía o serviço
do dia e ia para casa. Naquela época, não essa profusão quase selvagem de
mídias ao alcance da mão, muito menos a ansiedade por usar todas ao mesmo
tempo. Era relativamente fácil a pessoa ficar em silêncio absoluto todos os
dias, nos mesmos horários, sem ser perturbada.
Hoje isso beira a
utopia. Aquele maldito aparelhinho que reúne dezenas de funções de dezenas de
aparelhos em um só, fácil de extraviar, roubar ou dar pau e inutilizar todas
elas de uma só vez, é quase obrigatório até para se manter o emprego. Ainda não
tenho smartphone, mas sei que nem encontrarei celular de teclado, quando
precisar substituir o actual. Vou dar umas dicas para remediar o problema, até
encontrarem alguém que realmente saiba o que está fazendo e possa orientar o
praticante de forma segura, sem precisar de um soldado fortemente armado para
controlar surtos.
Cultive uma rotina. Palavra
que causa calafrios em muita gente, a rotina é vital para disciplinar a mente, esqueçam
o conceito imaturo de que a rotina poda a liberdade. Não confundir “rotina” com
“bitolar”. Se tu não sabes a diferença, está na hora de sentar-se no divã. A
meditação é como uma locomotiva ultra poderosa, que pode te ajudar a arrastar o
mundo, mas também pode de atropelar.
Decidindo-se a
aceitar uma rotina mínima, reserve nela um tempo para o nada. Sim, nosso amigo
nada é capaz de muitas boas coisas, se o deixarmos trabalhar. Desligue tudo o
que não for essencial e puder ser desligado, sente-se da forma mais confortável
possível, mas não a ponto de ficar com sono, foque a visão no vazio e deixe
rolar. Aos poucos, com o tempo, tu vais se acostumar a ouvir o som da
respiração. Qualquer alteração do ritmo respiratório não vai mais passar despercebido
pela mente consciente, e será um sinal amarelo que teu ego saberá interpretar a
contento e em tempo hábil.
É só? Sim, é só, mas
não é fácil como parece. As tentações, os medos, a ansiedade e as neuroses vão
te chamar a todo momento, até se acostumares ao nada. Facebook, Tweeter,
WhatsApp, televisão, seriados e outras bobagens vão exigir tua atenção até
perceberes que realmente não precisas deles o tempo todo. Na verdade, com o
tempo, vais perceber que não precisas de nenhum deles mais do que de vez em
quando, o que poderá causar indisposições sociais, mas é um custo de que deves
ter ciência e estar disposto a pagar para ter paz. PAZ.
Chamadas
profissionais e de emergência são outra conversa, mas o que não for essencial,
e é justamente esta a área que mais te toma tempo e paz. Vais se surpreender
com o tempo livre que vais encontrar, porque até as baladas sagradas de todo
fim de semana podem perder importância. Quem for teu amigo vai entender, quem
não for, agradeça-se por ter iniciado a prática e deseje boa viagem.
Usufrua de tua paz.