segunda-feira, 11 de junho de 2012

Sobre Bardon 01


Estou lendo o Magia Prática, de Franz Bardon, tradução de Eddie Van Feu. Muita gente desceu a lenha na petulância da amiga Eddie, mas se esqueceu de perguntar ao próprio Bardon o que ele pensa da obra. Muito provavelmente os detratores são os menos aptos a contactar o mago debochado.
Aos que pretendem, e eu recomendo, estudar magia à sério por este livro, direi sucintamente o que podem esperar dele.
  1. Bardon é alemão. Para quem conhece bem ao menos um alemão, isto diz muita cousa, pois ele é curto e grosso. Não é grosseiro, mas não perdoa burrices e chama de burro, na cara, qualquer um com preguiça de pensar. Ele deixa claro que o conhecimento prévio e profundo das ciências formais não o impressiona, então o leitor petulante pode enfiar seus diplomas acadêmicos na sacola e ir tocar noutra freguesia;
  2. É um excelente professor. Ele exige tudo de seus leitores, te obriga a raciocinar, meditar e fazer paralelos entre a obra e a tua própria experiência de vida. Muito provavelmente ele acompanha de perto aqueles que se mostram interessados de verdade pelo aprendizado, muito provavelmente esses alunos já viram aqueles assuntos noutras encarnações, muito provavelmente alguns destes foram seus colegas ou pupilos na magia;
  3. O que leva a este terceiro ítem: Ele escolhe e ajuda como pode os que se interessam de coração pelo aprendizado, especialmente a parte ética, mesmo os alunos de progresso lento e que precisam repetir bastante vezes um trecho, como eu. Várias suposições físicas que eu formulei, desde a época em que era cético, ele confirmou, inclusive a possibilidade de se neutralizar a gravidade a baixos custos, só não sei ainda como, questão de tempo;
  4. Tem mais a ver com Tex Avery do que só a aparência. Bardon tem um senso de humor muito sutil, que premia quem o percebe, mas chama novamente de burro quem tenta levar com formalidade, como um ponto sério e misterioso de sua sabedoria. Não que não seja um foco misterioso de sua sabedoria, mas é algo que se esclarecerá espontâneamente, quando o aluno estiver pronto, sem precisar forçar. Entendeu? Não? Então vá ler outro autor;
  5. Premia novamente o aluno atento e sincero com dicas de práticas mágicas fáceis, simples de serem aplicadas, desde o começo do livro, bastando ter interesse sincero e coragem para raciocinar por conta própria. Não importa se teus métodos não são os mesmo que os dele, esses pormenores variam mesmo de mago para mago, assim como o modo de consultar varia entre bons médicos, sem que isso torne um deles melhor ou pior;
  6. Precisa de paciência e muita, mas muita humildade mesmo! Se fores um mimado, que achas ter nas mãos a verdade de tudo o que existe, ou estacionas teu carro em cima da guia rebaixada para cadeirantes de propósito, vais se irritar muito com a grande quantidade de repetições, tanto de termos quanto de passagens completas. Ele não quer deixar espaço algum para dúvidas desnecessárias, só para as construtivas, por isso mesmo, apesar de repetir "corpo, corpo, corpo, corpo..." como um vinil furado, seu estilo é rápido, não dando tempo para o leitor perguntar ao próprio ego, das formas de aquilo poder servir para enaltecer sua figura. Por ser rápido, as repetições ajudam a fixar as partes já lidas. Ah, se meus professores tivessem sido assim...
  7. Muitos de vocês terão a nítida impressão de que já leram aquilo, a ponto de antecipar com clareza algumas das próximas passagens... e realmente já leram. Como já disse, ele acolhe com carinho e rigor os que já tiverem visto algo sobre o assunto, de forma séria, e dá os lampejos de memória de que necessitam. Como ele consegue? Oras, eu não estou falando do Mister M, estou falando de Franz Bardon!
  8. Alguns leitores, especialmente os que se colocarem como alunos, poderão ter impressões de vidas passadas. Mas não me refiro a vidas recentes, de trezentos ou quatrocentos anos atrás, falo de épocas realmente remotas, do Alto Império Romano para trás. Inclusive, especulando às minhas custas, sentir um cheiro que "não vem de lugar algum" e logo identificar como papiro fresco;
  9. Pela ajuda que ele oferece aos puros de coração... Sempre quis escrever isto em um artigo... Um filólogo com pós-doutorado, que tenha a intenção pura e simples de desvendar mais um autor esotérico, terá um sucesso pífio, enquanto quem ler a tradução mais tosca, de coração aberto, começa a a fazer operações espirituais e outros trecos legais do gênero. Não adianta saber ler alemão em todos os seus dialetos, se não souber ouvir o que ele tem a dizer;
Não é uma leitura fácil, não para quem não gosta de ler, nem para quem não tem imteresse sincero pela reunificação com a Fonte da Criação. Tampouco é um livro para ler, achar legal e guardar na gaveta, até porque depois ele te acerta, no astral. É um livro para se ler, reler, praticar o que se puder com todo o empenho que se possa ter e guardar para consultas. É um livro para a vida inteira. Posso dizer que, depois de começar a ler Magia Prática, a Bíblia e os mistérios do judaísmo ficaram mais claros de compreender. Na verdade, de cara, Bardon me mostrou a raíz mais remota do cristianismo. Onde? Ah, meu amigo, se tu não percebeste, é porque não é para ti... nem Golzinho tijolo.

Sem querer, mas já propagandeando, inevitável neste caso, eu recomendo a compra da obra. Dei minha senha de crédito, confiando que não iriam comprar um Cadillac para eu pagar, e me dei bem. Descontando a demora do que um dia já foi um dos melhores correios do mundo, com pequenos danos no envelope, prudentemente de papel espesso, o livro se paga logo nas primeiras páginas. Não é por ter sido transcrito e  traduzido por duas amigas de alma, elas sabem o quanto posso ser ácido, é porque a obra é realmente compensatória. Lógico que a tradução sempre leva traços de quem a fez, mas para o bom mago não importa se o caldeirão é aquecido por aroeira ou pau de goiabeira.

Com quantos paus se faz uma varinha?